sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

Correio sem entrega

FOLHA DE S. PAULO
29/12/17


A capital do Estado mais rico do país cultiva a imagem de cidade moderna e dinâmica, comparável a grandes centros internacionais. Quem vive o dia a dia paulistano, contudo, experimenta situações que nada refletem avanço ou efervescência.

De semáforos que deixam de funcionar sob o efeito das chuvas aos índices de criminalidade, passando por um sistema de transporte aquém das demandas, há uma gama de problemas primários que afeta, muitas vezes de maneira dramática, o cotidiano da população.

Levantamento inédito desta Folha mostrou um aspecto menos conhecido nesse cenário: o risco de assaltos levou os Correios a restringir ou até cancelar a entrega de produtos em quase um terço da cidade —fração que abarca cerca de 4,5 milhões de pessoas.

As medidas são adotadas de acordo com o histórico de delitos sofridos pela empresa estatal nos diversos bairros da metrópole.

Os transtornos acontecem em mais da metade dos distritos (57 dos 96 existentes), mas concentram-se em regiões da periferia.

A depender do quadro, a entrega da mercadoria sofrerá atraso à espera de recursos de segurança, como escolta armada, ou simplesmente não será feita no endereço especificado, cabendo ao destinatário buscar a encomenda numa central dos Correios. Em época natalina, essas unidades recebem um expressivo contingente de pessoas em busca de artigos que, em condições menos críticas, receberiam pacificamente em suas residências.

Em mais de 85% das áreas de cinco distritos (Guaianases, Pedreira, Capão Redondo, Brasilândia e Grajaú), o serviço é feito com proteção armada ou veículo especial.

Em outras regiões, como a do Itaim Paulista (na zona leste), as restrições atingem praticamente todos os logradouros. Os assaltos a veículos dos Correios enquadram-se na categoria dos roubos de cargas, que neste ano subiram 1,2% no município e 27% na região metropolitana.

São conhecidos os progressos locais na redução de homicídios. Tal melhoria, no entanto, não basta para encobrir as consequências nefastas de um quadro que permanece preocupante em áreas cruciais, como roubos e furtos.

Essa situação só reitera uma realidade que já se conhece por intermédio de outros levantamentos e estatísticas —e pode ser constatada a olho nu: São Paulo sofre com desigualdades socioeconômicas que relegam grande parte de seus habitantes a condições de vida típicas do subdesenvolvimento. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário