Correios já têm prejuízo de R$ 2 bi no ano
VALOR ECONÔMICO
19/12/17
Mesmo após uma série de medidas para reduzir gastos, como fechamento de
agências próprias e corte de patrocínios, o prejuízo da estatal em 2017 já
alcançava R$ 2,03 bilhões até novembro 17% a mais do que o déficit do
mesmo período do ano passado.
A sangria financeira na Empresa Brasileira de Correios e
Telégrafos (ECT) não foi estancada pelo novo governo. Mesmo após uma série de
medidas para reduzir gastos, como fechamento de agências próprias e corte de
patrocínios, o prejuízo da estatal em 2017 já alcançava R$ 2,03 bilhões até
novembro 17% a mais do que o déficit do mesmo período do ano passado.
Será o terceiro ano seguido no vermelho, superando todas as estimativas
pessimistas feitas pelo próprio governo. Em meio às discussões sobre uma
eventual privatização dos Correios, a Secretaria de Coordenação e Governança
das Empresas Estatais (Sest) apresentou ao Palácio do Planalto uma projeção que
apontava prejuízo de R$ 1,3 bilhão neste ano.
Em uma tentativa desesperada de inverter a trajetória, o ministro Gilberto
Kassab (da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações) cruzou a cidade e foi
despachar na semana passada com o presidente do Tribunal Superior do Trabalho
(TST), Ives Gandra Martins Filho.
Os Correios vinculados ao Ministério das Comunicações
judicializaram sua disputa com sindicatos em torno do Postal Saúde,
empresa responsável pela gestão do convênio médico dos trabalhadores, que
representa mais de 80% do rombo acumulado nos últimos três exercícios.
As duas partes passaram o ano inteiro buscando um acordo, mas as tentativas de
mediação do TST fracassaram por causa da resistência dos sindicatos à proposta
dos Correios. A companhia acaba de entrar com uma ação judicial para reduzir
seus aportes e Kassab foi pedir a Ives Gandra que o julgamento ocorra logo no
início de 2018. Quanto mais a agonia se prolongar, conforme advertiu o ministro
na conversa, mais perto se estará do colapso.
A cada R$ 100 com gastos do plano de saúde, os Correios bancam R$ 93 e os
trabalhadores arcam com R$ 7. Hoje o benefício abrange funcionários da ativa e
aposentados, mas se estende nas mesmas condições para cônjuges, filhos e pais.
Na ação judicial, a estatal pleiteia bancar 100% dos gastos, mas restritos aos
empregados (ativos ou inativos), sem dependentes. Dispõe-se ainda a transferir
15% do resultado líquido em caso de lucro para abater os custos do
convênio.
"É essencial para o nosso equilíbrio e a nossa sustentabilidade",
disse o presidente da ECT, Guilherme Campos, que relativiza o déficit
verificado neste ano. Para ele, o resultado foi muito prejudicado pelo programa
de demissões voluntárias, que teve a adesão total de mais de 6 mil pessoas. A
reserva contábil para o pagamento dos incentivos às demissões está sendo feita
no balanço de 2017. Ela representa uma despesa adicional de R$ 1,2 bilhão nas
contas, mas sem o mesmo impacto imediato no fluxo de caixa porque as
indenizações são parceladas em oito anos.
"Sem o PDV e as despesas com o Postal Saúde, estaríamos terminando este
ano praticamente no zero a zero", afirmou o presidente. Segundo ele, isso
significa que as medidas de austeridade e racionalização tiveram reflexo. Houve
fechamento de agências aos sábados, redução do número de unidades da
rede própria (sem mexer nas franqueadas), corte de patrocínios culturais e
esportivos, adiamento de férias para trabalhadores a fim de economizar
com o adicional, que é de 70% (e não 30%), por acordo coletivo.
Muitos sindicatos e associações de empregados, porém, desconfiam que a cartilha
apregoada por Campos ex-deputado federal e hoje vice-presidente nacional do PSD
busca deteriorar as contas da empresa tão somente para tornar menos
complicada sua privatização no futuro.
Eles apontam que algumas iniciativas promissoras ficaram estancadas ou tiveram
pouco avanço. Um projeto de lei apresentado em maio pela deputada Maria do
Rosário (PTRS) dá à administração pública federal a prerrogativa de contratar
diretamente os Correios para serviços postais. "Estimativas menos
otimistas da própria estatal calculam o valor de R$ 20 bilhões [como potencial
de receitas]", afirmam Maria do Rosário e os demais coautores do projeto.
Um aspecto destacado pelos críticos é a queda em torno de 5% nas receitas da
empresa. A tentativa de relicitação do Banco Postal, que engordava o caixa dos
Correios, fracassou. Concorrentes no mercado de encomendas expressas, que não
constituem monopólio, também avançam.
Diante dos três anos seguidos de prejuízo que já totalizam mais de R$ 6
bilhões , os indicadores operacionais sofreram um tombo. O número de
indenizações por perdas, atrasos e roubos de objetos saltou de 7.534 em 2015
para 12.434 em 2017 (até outubro). Houve aumento de R$ 140 milhões para R$ 187
milhões, na mesma comparação, como forma de reparo aos clientes.
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