Estatais federais que tiverem prejuízo terão plano de recuperação
Estadão
03 Dezembro 2017
03 Dezembro 2017
O governo pretende criar um programa de
recuperação e melhora empresarial para evitar que mais estatais federais passem
a depender de recursos públicos para se manter. As empresas vão ter indicadores
econômicos e financeiros monitorados para que seja possível aplicar medidas
prévias, que evitem a piora da situação das companhias. “É uma espécie de
‘recuperação judicial’ das estatais”, comparou o secretário de Coordenação e
Governança das Empresas Estatais do Ministério do Planejamento, Fernando
Ribeiro Soares. O mecanismo está previsto num projeto de lei, que ainda precisa
ser aprovado pelo Congresso Nacional para entrar em vigor.O governo tem 48 estatais
sob seu controle direto, das quais 18 são consideradas dependentes. Esse status
indica que as empresas precisam de recursos do Orçamento Geral da União para
pagar despesas com pessoal e de custeio. É o caso de empresas de pesquisa e
planejamento como Embrapa, Conab, CPRM, EPE e EPL, companhias na área de
transporte como Trensurb, CBTU e Valec. Também integra o grupo a Ceitec,
estatal que produz chips para identificação de veículos e brincos eletrônicos
para animais, além de empresas da área de saúde e defesa.
Embora registrem prejuízos há anos, Correios e
Infraero ainda não se enquadram nessa situação, pois têm receita suficiente
para cobrir esses gastos de custeio e com empregados. Porém, a União tem feito
aportes para financiar investimentos dessas companhias. Com o plano de
recuperação e melhoria empresarial, o governo quer evitar que o grupo de
dependentes aumente ainda mais.“Antes de decretarmos a situação de dependência,
vamos submeter as empresas ao programa para recuperá-las”, disse o secretário.
Segundo ele, atualmente não há incentivos para que as estatais deixem a
condição de dependência da União.
Incentivo. O projeto de lei propõe medidas
duras para incentivar as empresas a se ajustarem previamente, sem que seja
preciso entrar no programa. As empresas que estiverem em situação de
recuperação, por exemplo, não poderão dar reajustes a diretores e empregados,
alterar planos de cargos e salários, criar cargos comissionados ou funções de
confiança, ampliar benefícios de saúde e previdência ou contratar novos
trabalhadores.
As estatais que entrarem no programa só
poderão receber recursos para financiar planos de demissão voluntária ou
reequilibrar a previdência complementar e o seguro saúde. As empresas que não
conseguirem se reequilibrar ficarão sujeitas a punições do Tribunal de Contas
da União (TCU).
Segundo o secretário, o programa de gastos
das estatais atingiu R$ 1,3 trilhão este ano, o equivalente a 77% do Orçamento
da União, de R$ 1,7 trilhão. “É muita coisa. As estatais precisam entregar mais
para a sociedade.” Com o status de dependência, as despesas das companhias
passam a integrar o Orçamento, enquanto as receitas entram no caixa único do
Tesouro.
Entre os indicadores que serão monitorados
estão geração de caixa, dívida, patrimônio líquido e gastos com pessoal. Esses
critérios serão regulamentados por decretos e portarias, após a aprovação do
projeto de lei pelo Congresso.
“São bastante conhecidos os argumentos que
recomendam a tentativa de resgate da empresa privada antes da decretação de sua
falência”, diz a exposição de motivos do projeto de lei. “Entretanto, tal
paralelo inexiste em se tratando de empresas estatais e, já que não podem falir
e tampouco se recuperar, são necessariamente classificadas como dependentes,
não havendo, na prática, nenhuma perspectiva de reversão do quadro a partir daí.”
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