Correio Braziliense
28/04/2021
“Quanto
tratamos da privatização dos Correios, na realidade estamos tratando de que
Brasil queremos deixar para nossos filhos: um Brasil em que o Estado se
preocupa com todos os cidadãos, indistintamente, levando-lhes instrumentos de
cidadania, como é o caso do serviço postal, ou um Estado centrado na exploração
de atividades econômicas, em que só quem pode pagar tem acesso aos serviços e
os meios de produção pertencem a poucos?”
Marcos César Alves Silva*
A discussão em
curso no Congresso Nacional a respeito do projeto de privatização dos Correios
me faz pensar em que Brasil queremos deixar para nossos filhos: um Brasil em
que o Estado se preocupa com todos os cidadãos, indistintamente, levando-lhes
instrumentos de cidadania, como é o caso do serviço postal, ou um Estado
centrado na exploração de atividades econômicas, em que só quem pode pagar tem
acesso aos serviços e os meios de produção pertencem a poucos?
A questão de fundo é essa mesmo e não se a
Empresa dá lucro ou prejuízo, se o negócio dos Correios tende a diminuir ou a
crescer ou ainda se a administração da empresa é eficaz ou não. O que está em
jogo é algo muito mais sério e impactante na vida das pessoas.
No Brasil, os cidadãos têm acesso fácil ao
serviço postal, que está presente em praticamente todos os municípios. Muitas
pessoas que jamais entrariam numa agência bancária, porque se sentem
constrangidas por serem simples, não hesitam um minuto para entrar numa agência
dos Correios, pois sabem que ali não serão discriminadas.
Não foi por acaso que o banco postal teve
grande aceitação quando lançado e milhões de brasileiros que nunca tinham usado
uma conta bancária passaram a faze-lo. Nos 10 primeiros anos de operação, o
banco postal abriu mais de 11 milhões de contas corrente Brasil afora.
De forma análoga, qualquer brasileiro pode
enviar com facilidade uma carta, uma encomenda, um vale postal. Basta procurar
a agência mais próxima. E recebe as cartas e encomendas que lhe são destinadas
em sua residência ou na agência mais próxima. Todos e não apenas os que moram
nas grandes capitais, nos bairros mais ricos.
Tratar o serviço postal como mera exploração
de atividade econômica é, portanto, aviltar sua importância, desconhecer sua
natureza e colocar em risco algo que a sociedade brasileira conquistou e que
faz parte do tecido que chamamos de Nação.
Com a tramitação do Congresso dos
PLs-7.488/2017 e 591/2021, que tratam do serviço postal, esperamos que os
parlamentares conheçam em profundidade o importante trabalho dos Correios e
saibam bem avaliar as propostas que estão colocadas. Não é possível que nossos
representantes sigam no rumo de termos menos Brasil para menos brasileiros.
*Marcos César
Alves Silva – Vice-Presidente da ADCAP
Direção Nacional da ADCAP.
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