Apesar de haver no Brasil milhares de transportadoras,
incluindo filiais de grandes multinacionais, três em cada quatro empresas de
comércio eletrônico brasileiro utilizam os Correios para seus envios. As razões
para isso estão principalmente nos preços praticados pelos Correios, em geral
entre os menores, na abrangência dos serviços, que chegam efetivamente a todo o
país, e na qualidade e consistência dos serviços, que viabilizam atendimento
seguro ao longo do tempo.
Com a intenção do governo de privatizar os Correios, esse
quadro é colocado em risco, porque, diferentemente do que alega o governo, nos
processos de privatização ocorridos no setor o que se viu de imediato foi um significativo
aumento de preços nos serviços e queda da qualidade, com o fechamento de
agências e redução do quadro de empregados.
No Brasil, a tendência é ainda mais grave, em função de
peculiaridades locais como as imensas assimetrias e dificuldades logísticas de
um país continental e o fato de que os Correios são tidos hoje como “longa
manus da União”, o que lhe garante imunidade tributária.
É, então, bem simples de perceber o que espera as empresas
de comércio eletrônico caso a privatização seja levada a cabo, como pretende o
governo. Basta lembrar que o mercado de transporte de encomendas é totalmente
livre no país. As transportadoras podem se organizar como bem entenderem,
comprarem outras, atuarem nas regiões que mais lhes interessam etc. E, mesmo assim,
o que se vê são preços em geral muito maiores que os praticados pelos Correios,
sem contar a ausência dessas empresas em milhares de municípios brasileiros,
aonde apenas os Correios chegam.
Um aspecto central nisso tudo é que, dependendo do tamanho do
aumento de preços que o novo dono dos Correios praticar, os pequenos operadores
de comércio eletrônico que hoje existem no país podem se ver completamente
inviabilizados de um dia para o outro.
Outra questão relevante é que o compromisso de universalização
da prestação de serviços postais se limitará aos serviços prestados sob regime
de monopólio, não alcançando os de encomendas. Assim, a critério do novo dono
dos Correios, rotas de entrega de encomendas que não forem suficientemente
lucrativas poderão ser descontinuadas.
É, portanto, muito importante que os operadores do comércio
eletrônico estejam atentos a essa iniciativa do governo federal de privatizar
os Correios, pois os efeitos para seus negócios podem ser catastróficos,
diferentemente do que traz o discurso oficial, que tenta vender um quadro de
avanço, quando se trata mesmo de desmontar uma estrutura pública que funciona de
forma sustentável e que tem servido às empresas e cidadãos.
ADCAP - Associação dos Profissionais dos Correios
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