Vaccari diz que não
responderá a perguntas
na CPI dos Fundos de
Pensão
EBC
03/02/2016
03/02/2016
O ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto
confirmou, há pouco, que não responderá às perguntas feitas pelos parlamentares
da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Fundos de Pensão, da Câmara dos
Deputados.
Vaccari, que está preso em Curitiba, como réu
na Operação Lava Jato, conseguiu, ontem (2) habeas corpus do Supremo Tribunal
Federal (STF), que garante o direiro a ficar em silêncio durante a reunião da
CPI e ser acompanhado por seu advogado Luiz Flávio Borges D’Urso, que já tinha
antecipado que ele não falaria na comissão.
“Exercerei meu direito a ficar calado”, disse
Vaccari. Ainda que fosse o cenário previsível, a declaração do ex-tesoureiro do
PT irritou o colegiado. Citando denúncias envolvendo Vaccari, o presidente da
CPI, Efraim Filho (DEM-PB), tentou reverter a decisão do depoente, que foi
convocado como testemunha. “Há graves indícios de que o senhor teria exercido
tráfico de influência junto aos fundos de pensão para atender a interesses
político-partidários”, disse o deputado.
Efraim Filho citou declarações de Antonio
Carlos Conquista, presidente do Postalis (fundo de pensão dos Correios), que
disse ter encontrado Vaccari algumas vezes sem esclarecer o que foi discutido
nesses encontros.
O parlamentar lembrou que o lobista e delator
Milton Pascowitch conseguiu encontros com dirigentes da Funcef (fundo de pensão
da Caixa Econômica Federal), intermediados pelo ex-tesoureiro, e que mensagens
captadas no celular do ex-presidente da construtora OAS Leo Pinheiro que
indicam que tanto Vaccari quanto o ministro Jaques Wagner (Casa Civil)
intermediaram negócios entre a OAS e as entidades de previdência complementar
de empresas públicas. Beneficiarios do Postalis e da Funcef que acompanham a
sessão vaiam todas as vezes que Vaccari diz que ficará calado e aplaudem os
deputados que fazem acusações ao ex-tesoureiro do PT.
“Mesmo que não queira falar, [Vaccari] será
obrigado a ouvir. O seu silêncio será ensurdecedor para muitos beneficiários
[dos fundos de pensão] aqui presentes. O seu silêncio poderá gerar presunção de
culpa diante das graves acusações que lhe são imputadas. Nunca vi ninguém que
veio aqui para ficar sentado e calado, sem usar o direito de se defender, ser
inocente. Quem veio para ficar calado é porque teve culpa”, afirmou Efraim
Filho. A convocação de Jaques Wagner para falar na CPI será votada pelo
colegiado no próximo dia 16.
O presidente da comissão também anunciou que
o Ministério Público Federal pediu o acesso a provas e documentos que a CPI
produziu desde que começou a funcionar, em agosto do ano passado. Para Efraim
Filho, o pedido é um reconhecimento do trabalho da CPI. “O Brasil passa por um
momento de amadurecimento das instituições, de reforma de práticas arcaicas. A
Operação Lava Jato é um exemplo, assim como o trabalho da CPI, com o
reconhecimento do MPF [Ministério Público Federal] de que as provas produzidas
podem ser encaminhadas e colaborar para o inquérito. Isso nos dá a exata noção
de que estamos no rumo certo”, afirmou.
O deputado Paulo Teixeira (PT-SP) tentou
convencer colegas que atacaram o silêncio de Vaccari. “Em uma comissão
parlamentar de inquérito, nos equiparamos ao Poder Judiciário que não pode
tratar uma pessoa ofendendo sua honra”, disse. Ao lado das vaias entoadas pelos
beneficiários de fundos de pensão, Sóstenes Silva Cavalcante (PSD-RJ) reagiu:
“A honra que esta sendo ofendida é a dos brasileiros”.
Sem sucesso, a deputada Erika Kokay (PT-DF)
retomou o tom de apelo. “A CPI deve obedecer as regras. Temos uma sentença dada
pelo Supremo Tribunal Federal. O direito de ficar calado está sendo considerado
como uma agravante a uma condição do depoente, que é uma condição de
testemunha”, afirmou. Beneficiários da Funcef e Postalis que acompanhavam a
sessão sairam do plenário em protesto.
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