Indicados dominam
cúpula dos Correios com salários acima de
R$ 40 mil
Época
04/07/2016
04/07/2016
Dez anos depois de
terem sido o estopim do escândalo do mensalão e imersos nos desdobramentos da
Operação Lava Jato, os Correios enfrentam atualmente uma crise marcada pela
ingerência política na cúpula da estatal. Os maiores salários da empresa são
pagos para pessoas sem nenhuma experiência em logística que ocupam os cargos
por indicação de partidos. Essa prática é foco da Lei de Responsabilidade das
Estatais, sancionada pelo presidente em exercício, Michel Temer.
A lei restringe a
ocupação de diretorias e conselhos de administração de estatais por políticos e
sindicalistas. Ex-dirigentes partidários, por exemplo, só poderão ser nomeados
se estiverem afastados da estrutura do partido ou campanhas eleitorais por um
período mínimo de três anos.
Esse critério impediria,
por exemplo, a nomeação do atual presidente dos Correios, Guilherme Campos, que
assumiu antes da sanção da lei. Ele presidia o PSD, de Gilberto Kassab, que se
licenciou do comando do partido ao assumir o Ministério das Cidades, no governo
da presidente Dilma Rousseff.
Campos ganha por
mês R$ 46,7 mil, o maior salário da companhia. A remuneração mensal de cada um
dos vices é de R$ 40,6 mil. Esses cargos ainda são ocupados, em sua maioria,
por indicados do PDT, partido do ex-presidente dos Correios Giovanni Queiroz,
médico e fazendeiro. Ele entrou no lugar do petista Wagner Pinheiro, que
comandou a estatal de 2011 a 2015.
Na atual direção,
remanescente das escolhas de Queiroz, dois advogados, também indicados pelo
PDT, comandam as áreas de encomendas e negócio postal. Um dentista, indicado
pelo PT, era responsável pela área de tecnologia até pouco tempo. O
vice-presidente de gestão de pessoas, do PDT, já foi autuado por
irregularidades trabalhistas em sua propriedade rural em Minas Gerais, antes de
assumir cargo de superintendente do Ministério do Trabalho.
Finanças
Mesmo com o
monopólio da entrega de cartas pessoais e comerciais, cartões-postais e
malotes, a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) fechou no vermelho
nos três últimos anos, sendo que em 2015 o prejuízo recorde foi de R$ 2,1
bilhões. A estatal ainda opera no vermelho - R$ 900 milhões nos cinco primeiros
meses de 2016 - e precisará de um empréstimo do Banco do Brasil para pagar
salários e fornecedores. Segundo Guilherme Campos, a empresa precisa de uma
capitalização de R$ 6 bilhões do Tesouro Nacional.
A diretoria
executiva tem direito a 16 assessores especiais que recebem, cada um, R$ 23
mil. Esses cargos foram considerados inconstitucionais pela Justiça do
Trabalho.
Os Correios
firmaram um Termo de Conciliação Judicial (TCJ) com o Ministério Público do
Trabalho da 10ª Região para acabar com essas funções até fevereiro de 2018.
Mesmo assim, o atual presidente disse que batalhará para manter esses cargos. O
custo estimado com esses assessores especiais é de R$ 500 milhões por ano. A
reportagem teve acesso ao currículo de uma das indicadas pelo PDT a esse cargo.
Ela tem como única experiência profissional o trabalho de mais de 30 anos como
assessora de parlamentares na Câmara. Os Correios responderam, em nota, que não
há aparelhamento político-partidário na estatal.
Segundo a empresa,
o atual estatuto exige "reputação ilibada" e formação em nível
superior para a nomeação de membros da diretoria da empresa, critérios que são
atendidos pela atual cúpula. A estatal afirmou que passou a adotar ferramentas
de gestão que aumentaram a transparência e o controle.
As informações são
do jornal O Estado de S. Paulo.
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