Correios podem custar R$ 21 bi ao Tesouro
Valor
14/08/2019
Fabio Graner
14/08/2019
Fabio Graner
Na defesa
da privatização dos Correios, a área econômica do governo calcula que se a
empresa mantiver a trajetória atual, o cenário de ela se tornar uma estatal
dependente do Tesouro não deve ser desprezado. E, nas contas dos técnicos, isso
teria um custo fiscal da ordem de R$ 21 bilhões.
Esse
número refere-se ao fato de que, na efetivação dessa hipótese, toda a despesa
da empresa passaria a ser considerada no orçamento federal. E a consequência
imediata seria encolher o já apertado espaço do teto de gastos na proporção
financeira de R$ 21 bilhões.
Para se
tornar dependente, explica uma fonte, o governo teria que aportar recursos para
pagar despesas com pessoal ou custeio da empresa. Mesmo que isso seja feito em
um valor baixo, a implicação seria incluí-las nesse grupo que hoje conta com 18
empresas e que, de acordo com o ministério, gerou aos contribuintes um custo de
R$ 160 bilhões nos últimos dez anos.
Não há,
contudo, um prognóstico sobre se e quando os Correios efetivamente podem forçar
o governo a fazer um aporte e assim se tornarem dependente. A área técnica do
governo tem um retrato bem desfavorável da situação da empresa e já convenceu o
presidente Jair Bolsonaro a privatizá-la.
A leitura
do governo é que a estatal vem, por conta da sua falta de capacidade de
investimentos, perdendo espaço para outras companhias no mercado de comércio
eletrônico, que, mesmo assim, vem impulsionando suas receitas de encomendas. Os
investimentos feitos pela empresa no último ano foram os mais baixos em
proporção da receita em comparação com dez concorrentes internacionais.
Além
disso, as disponibilidades de caixa dos Correios vêm se reduzindo e fecharam
2018 abaixo de R$ 1 bilhão, sendo R$ 340 milhões em garantias para o Postal
Saúde. A queda nesse indicador desde 2012 é de 81,5%.
Os dados
levantados pelos técnicos do governo indicam prejuízos líquidos acumulados e,
mesmo o desempenho operacional (antes de impostos), tem sido positivo mais por
questões contábeis do que por eventual melhoria da companhia.
Internamente,
a área econômica fez um histórico de episódios de interferência política e
corrupção envolvendo a companhia a partir do primeiro governo do PT. O rombo de
R$ 11 bilhões no Postalis, o fundo de pensão dos funcionários da estatal, é
tratado como emblemático. São 49 autos de infração, que o coloca como campeão
nesse quesito entre seus pares. Em 2017, a Superintendência Nacional de Previdência
Complementar (Previc) colocou o Postalis, que é alvo de diversas operações
policiais, como Greenfield, sob intervenção.
Até a
quantidade de greves envolvendo os Correios na última década já foi mapeada
pelos técnicos, que veem uma necessidade de reduzir 30 mil pessoas.
Do ponto
de vista do negócio, a visão da área econômica é que há muito a melhorar. A
empresa é vista como não recomendada no site "Reclame Aqui" e
representaria uma "barreira logística" para boa parte dos pequenos
empresários - quase 44% consideram o serviço virtual dos Correios como ruim ou
péssimo, segundo pesquisa da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico.
Para o
governo, a deteriorada situação dos Correios demandaria uma urgente
privatização, sob pena de em algum momento o ativo perder o seu valor e não se
tornar atrativo para o setor privado.
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