Afinal, uma boa
notícia
ESTADÃO ON-LINE
10/4/2016
10/4/2016
Governo paralisado, economia
afundando, País à deriva, Legislativo concentrado em impeachment ou não
impeachment. Neste ambiente de destruição e aniquilamento, uma boa notícia
surpreendeu os brasileiros na quarta-feira: o Senado aprovou projeto de lei que
avança na direção de afastar políticos e seus partidos da gestão dos fundos de
pensão. Foi preciso o rombo desses fundos chegar em 2015 a R$ 77,8 bilhões (2,5
vezes maior do que em 2014), ameaçando o futuro de milhares de brasileiros e
suas famílias, para o poder público agir. E a ação não partiu do paralisado
governo petista, mas de quatro senadores: Paulo Bauer e Aécio Neves, do PSDB,
Valdir Raupp (PMDB) e Ana Amélia (PP), que trabalharam na concepção e na versão
final do projeto de lei.
Os senadores não fizeram mais que
sua obrigação. Afinal, a população paga seus salários para eles legislarem. Mas
a omissão do Legislativo e as pautas lotadas de medidas provisórias do
Executivo fizeram do que seria corriqueiro algo inusitado e surpreendente aos
olhos dos brasileiros. Sobretudo neste momento em que os senhores parlamentares
andam muito ocupados em arrancar – de Dilma ou de Temer – vantagens pessoais
decorrentes da posição que assumirem na votação do impeachment. Quem dá mais? É
a pergunta mais ouvida em Brasília.
Bem-vindo, portanto, o projeto de
lei. Melhor ainda se, na Câmara dos Deputados, receber acréscimos que corrijam
omissões em relação à fiscalização, que o texto do Senado parece não ter contemplado.
Fundos de pensão existem para
complementar o valor da aposentadoria de trabalhadores. São poderosos
instrumentos de poupança e muitos deles têm patrimônio financeiro mais rico do
que grande parte dos bancos. No Brasil os maiores são ligados a empresas
estatais: Previ (Banco do Brasil), Petros (Petrobrás), Funcef (Caixa Econômica)
e Postalis (Correios). São grandes no tamanho e maiores ainda no rombo. Os três
primeiros respondem por mais de 60% do déficit total de R$ 77,8 bilhões, que
sangrou 241 planos desses fundos em 2015, segundo a Superintendência Nacional
de Previdência Complementar (Previc).
Dependendo do tamanho do buraco, o
desequilíbrio financeiro desses fundos pode ser fatal para os trabalhadores a
eles filiados, que passaram toda a vida ativa pagando um valor mensal para o
fundo e podem ver essa poupança desaparecer. Se o rombo se agravar por dois
anos seguidos, os aposentados terão seu benefício reduzido e os ativos pagarão
valor maior de sua mensalidade. Se não resolver, as perdas dos trabalhadores
aumentam ano a ano até o fundo equilibrar suas contas. O Postalis e o Petros já
vivem essa lamentável situação.
Entregue a políticos indicados pelas
empresas patrocinadoras ou a sindicalistas eleitos com apoio partidário, a
gestão desses fundos sempre foi temerária e, no caso das estatais, sujeita à
interferência do governo federal. Desde os ditadores militares, passando por
Sarney, Collor, FHC, Lula e Dilma, todos os governos se valeram dos ricos
patrimônios dos fundos de estatais para induzi-los a investir em negócios de
rentabilidade duvidosa, mas de interesse do governo. Para cada negócio
bem-sucedido (a privatização da Vale, por exemplo) há muitos outros que
resultaram em prejuízos de difícil recuperação ou perda total (Previ, Petros e
Funcef viram o dinheiro virar pó na Sete Brasil, sob influência do
ex-presidente Lula). Além disso há uma extensa coleção de aplicações
financeiras ruinosas para o fundo, mas que rendem um bom dinheiro para seus
dirigentes.
Pois bem, o projeto aprovado no
Senado avança no sentido de proteger os participantes dos fundos de políticos e
sindicalistas corruptos, ao substituir o sistema de eleição de diretores e
conselheiros pela escolha baseada em critérios de capacidade técnica e
profissionalização. Mas deixa lacunas quanto à fiscalização, hoje a cargo da
Previc, que deveria atuar como agência reguladora imune a ingerências
políticas, mas é um órgão submisso, que funciona na estrutura do Ministério da
Previdência e submetido às ordens do ministro.
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