Fundos de pensão
acumulam perdas de R$ 113,5 bilhões, aponta CPI
O GLOBO ON-LINE
12/4/2016
12/4/2016
Rombo é referente aos últimos cinco
anos, segundo relatório
BRASÍLIA - O relatório final da CPI
dos fundos de pensão aponta que os maiores fundos de pensão das estatais —
formado pelo quarteto Postalis (dos funcionários dos Correios); Petros
(Petrobras); Funcef (Caixa Econômica Federal) e Previ (Banco do Brasil) —
acumularam perdas de R$ 113,5 bilhões, nos últimos cinco anos. A cifra mostra o
tamanho do descasamento entre a rentabilidade dos ativos totais dessas
entidades e os compromissos com pagamento de aposentadorias e pensões.
O rombo acumulado dos fundos de
pensão em 2015 e que terá que ser coberto pelas empresas públicas e pelos
participantes atingiu R$ 58 bilhões, de acordo com o documento.
O relatório apresentado aos membros
da Comissão, nesta terça-feira, pede ao Ministério Público providências para
cobrar judicialmente o ressarcimento pelas perdas às entidades a 158 dirigentes
e instituições privadas. Prevê ainda o indiciamento de 145 pessoas para
responsabilização criminal e faz várias recomendações aos órgãos de controle
com objetivo de melhorar a gestão das entidades e inibir fraudes.
A CPI concluiu em 15 casos concretos
(negócios realizados pelos quatro fundos de pensão) que os prejuízos por má
gestão e fraudes somam R$ 4,264 bilhões.
Para o relator, deputado Sérgio
Souza (PMDB-PR), os trabalhos da CPI revelam que houve má gestão, investimentos
em projetos de alto risco e sem retorno, ingerência política e desvio de
recursos das entidades. Os fundos são citados na Operação Lava Jato.
— Houve, no mínimo, negligência na
escolha dos projetos de investimentos — destacou o relator.
Ao iniciar a leitura do relatório, o
deputado destacou que a CPI tem limitações porque não pode fazer acordos de delação
premiada, não tem prerrogativa para condenar e que apenas faz as investigações
e encaminhamentos aos órgãos competentes.
A previsão é que o relatório seja
aprovado na próxima quinta-feira. Os trabalhos na CPI duraram oito meses, com
duas prorrogações.
Investimentos ruins
Entre os investimentos que geraram
prejuízos às entidades, o relatório cita a contratação do banco BNY Mellon pelo
Postalis na compra de papéis da dívida da Argentina e da Venezuela que geraram
perdas de R$ 240 milhões e outro investimento com a mediação da mesma
instituição no fundo Serengeti (banco BVA), outros R$ 46 milhões. Destaca a
entrada dos fundos de pensão (Previ, Funcef e Petros) na Sete Brasil
Participações (fornecedora de sondas da Petrobras), que está sem sérias dificuldades
financeiras.
Fala ainda da aplicação da Funcef no
fundo de investimentos da OAS, que gerou prejuízo de R$ 200 milhões.
O relatório destaca também
investimentos feitos pela Funcef na Bancoop em 2004, quando a Cooperativa de
Habitação era dirigida por João Vaccari Neto, ex-tesoureiro do PT e que está
preso. Lembra que a empreiteira OAS assumiu obras inacabadas da Bancoop, como o
Edifício Solaris (no Guaruja-SP, onde o ex-presidente Lula teria um triplex) e
que mais tarde, a OAS virou sócia dos fundos Previ, Funcef e Petros na Invepar
(concessionária do aeroporto de Guarulhos). De acordo com o relatório, as
relações dos fundos de pensão com Vaccari e a OAS eram "promíscuas".
Em nota, a assessoria de BNY
informou que o banco não pode ser responsabilizado pela perdas ao Postalis:
"As alegações presentes no relatório da CPI não refletem os fatos. Apesar
de entendermos a motivação da CPI de encontrar os responsáveis pelas potenciais
perdas causadas por ex-diretores do Postalis, o BNY Mellon não é responsável pelas
perdas sofridas pelo Postalis ou por atos fraudulentos cometidos por terceiros,
especialmente quando esses atos foram omitidos de forma deliberada".
Em nota, a Funcef informou que os
investimentos levam em conta o equilíbrio dos planos de benefícios e seguem
critérios técnicos de análise de risco:
"Os
investimentos são realizados, sempre, com observância aos princípios de
liquidez, solvência e equilíbrio dos planos de benefícios administrados, e
seguem rigorosos padrões técnicos de análise (...).enfatizamos, ainda, que o
processo decisório é baseado em pareceres das áreas de investimentos, de risco
e conformidade e da jurídica".
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