Correios investigam venda de uniformes no Paraguai
Metro
07 de agosto 2017
07 de agosto 2017
Há pouco mais de uma semana, o estudante de
medicina Paulo Henrique Matias estava em um hipermercado na região de Assunção,
capital do Paraguai. Em um corredor, dispostas em ‘araras’, estavam dezenas de
camisas dos Correios, o clássico uniforme amarelo e azul usado por
carteiros de todo o Brasil.
“Achei muito curioso, mas na hora eu estava
com pressa. Uns dias depois eu estava mais tranquilo, fazendo compras com a
minha família, e as camisas continuavam lá”, conta Matias, que tomou um
uniforme nas mãos, tirou uma foto e publicou no Facebook. Ontem a postagem já
tinha mais de 3,6 mil compartilhamentos.
O mistério nas redes sociais é o mesmo que
agora move uma investigação dos Correios com apoio da PF (Polícia Federal):
afinal, como os trajes dos trabalhadores postais no Brasil estavam à venda em
um comércio paraguaio pela bagatela de 18 mil Guaranis (cerca de R$ 10 no
câmbio atual)?
Matias disse ter alertado a gerente de que
eram roupas de uma empresa pública brasileira, e ela “prontamente” recolheu
todas. O mercado teria comprado as peças de uma empresa importadora de
vestuário do Paraguai, com a qual o Metro Jornal não conseguiu contato até a
noite de ontem.
Estoque ocioso
As etiquetas que aparecem nas fotos mostram
camisas de pelo menos duas confecções, ambas do interior do Paraná: a B2, de
Apucarana, e a Janbonés, de Jandaia do Sul.
Segundo o portal da transparência dos
Correios, a última vez que uma delas forneceu camisas à estatal foi em 2013.
Essa data – mais o fato de as roupas estarem com a logomarca antiga, aposentada
no ano seguinte – indica que são uniformes velhos.
Os Correios afirmaram que “possuem processos
rígidos de destinação correta dos materiais que não estão mais em uso,
garantindo a descaracterização dos uniformes antes do descarte”.
Na prática, porém, nada impede que haja
centenas de uniformes usados em circulação. A cada três meses, em média, os
carteiros ganham novos kits – três camisas, três calças, tênis, cinto e meias –
e nem sempre devolvem os antigos após o uso.
“Eles [a administração] pedem para devolver.
Mas pouca gente devolve. E eles não cobram essa devolução. Apenas pedem para
devolver”, conta Fabiano Batista, dirigente do Sintcom-PR (Sindicato dos
Trabalhadores nos Correios do Paraná).
Apenas nos contratos de 2017, os Correios
compraram 17.575 novas camisas. O preço unitário variou entre R$ 11,40 e R$
11,81, ou seja, um pouco mais caro do que as vendidas no Paraguai. As compras
são feitas pela administração central dos Correios, em Brasília, que distribui
o material para todas as unidades do país.
Em 2016, foi identificada no portal a compra
de mais de 213 mil camisas, somando as de manga curta e manga longa – ambos os
tipos, alguns com etiqueta arrancada, estavam disponíveis no mercado paraguaio,
diz Matias.
Na Polícia Federal ninguém quis comentar o
assunto. Apesar de já haver uma investigação, Matias diz que ainda não foi
procurado por autoridades policiais para falar sobre o caso.
Procurada, a empresa B2 negou ter vendido
camisas para fora dos Correios e diz que auxilia as investigações. Já a
Janbonés afirmou ter sido orientada pelos Correios a não se manifestar.
Mercado teria feito muitas vendas
O baixo preço das camisas – cerca de R$ 10
pela de manga longa e R$ 8 pela de manga curta – fez com que várias tivessem
sido vendidas no Paraguai até a intervenção de Matias, segundo o estudante. Os
uniformes estariam no local há cerca de um mês.
“Cheguei a comprar uma camisa – e depois
devolvi – para gravar um vídeo mostrando o comércio”, diz Matias.
Uniformes de carteiros e de outros
funcionários públicos, falsos ou verdadeiros, costumam ser usados no Brasil
para a prática de golpes ou assaltos.
Sobre as investigações, os Correios afirmam
que “apuram os fatos internamente e com a PF para que sejam punidos quaisquer
envolvidos”.
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