Dinheiro não é capim
Gazeta do Povo
18/06/2018
18/06/2018
No último dia 6, dirigentes da Confederação
Brasileira de Basquetebol, em audiência pública na comissão da Câmara dos
Deputados sobre patrocínio estatal ao esporte, pediram socorro financeiro ao
Estado para solucionar a grave crise gerada pelas péssimas gestões anteriores e
que culminou com a suspensão do Brasil, em 2016, da Federação Internacional de
Basquete. O pleito da atual direção da CBB, cujo mandato começou em março de
2017 – mas que até hoje não se mostrou capaz de conseguir patrocínio privado
para a modalidade –, é apoiado por ex-atletas como Oscar Schmidt, o “Mão
Santa”, que se queixou do abandono a que teria sido relegado o basquete pelo
mecenato praticado pelas empresas do governo à custa de seus acionistas e de
todos os que pagam impostos. Cabe, então, perguntar: é correto que o Estado
apoie financeiramente o esporte, em detrimento de outras prioridades para o uso
do dinheiro que nos extrai? Estatais costumam esbanjar generosidade com nossos
chapéus, pois são comandadas por políticos, que são agentes humanos em busca de
interesses pessoais. Entre 2012 e 2016, somente em sete dessas empresas, a
farra assomou a R$ 1,86 bilhão: da Caixa saíram R$ 730 milhões (mais da metade
para o futebol); dos Correios, R$ 465,2 milhões; do
Banco do Brasil, R$ 463,43 milhões; da Petrobras, R$ 77,9 milhões; do BNDES, R$
65,1 milhões; da Eletrobras, R$ 47,15 milhões; e da Infraero, R$ 11,25 milhões.
Essas companhias – assim como o Banco da Amazônia, o Banco do Nordeste, a Cobra
Tecnologia (do BB), a Chesf e a Eletrosul – foram compelidas, com o argumento de
que “o Brasil” precisava ganhar mais medalhas olímpicas, a patrocinar diversos
esportes com vistas aos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em contratos
firmados majoritariamente com as confederações, que se tornaram responsáveis
pelos aportes.
O Tribunal de Contas da União (TCU), em 2017,
auditando os contratos dessas empresas, apontou para diversas irregularidades.
Com a denúncia daquele órgão e com a crise financeira do Estado e de suas
empresas, a fonte secou e a politicagem fantasiada de investimento esportivo
deixou seus conhecidos lastros: migalhas de medalhas e barbaridades de
anormalidades.A inacreditável “Autoridade Pública Olímpica”, subordinada ao
inconcebível Ministério dos Esportes, dispunha de 329 cargos, pagos por todos
os cidadãos. Um indicativo de tendência ditatorial, pois ditadores sempre
gostam de se intrometer no esporte – sejam europeus, como Hitler, Stalin, seus
sucessores e Mussolini; brasileiros, como Getúlio; latino-americanos, como
Fidel; africanos, como Idi Amin (de Uganda) e Mbasogo (da Guiné Equatorial); ou
asiáticos, como os vários líderes chineses e Kim Jong Un, o gordinho malvado.
Para essa abominável turma, o esporte deve ser tratado como política de Estado.
Mesmo supondo, ingenuamente, que em todo esse
enredo não tenham ocorrido episódios de corrupção, cabem boas perguntas. Será
correto o Estado empregar recursos – que são sempre escassos – no esporte,
usando meios que nos são extraídos compulsoriamente para esse fim, enquanto
hospitais acumulam filas? É moralmente aceitável, por mais que se reconheçam os
benefícios do esporte, impor aportes para federações e clubes, com isso
preterindo professores, médicos, policiais, garis etc. e mantendo nossa
infraestrutura de transportes de quinta categoria e os cidadãos de bem engaiolados
em suas casas enquanto a bandidagem domina as ruas? Os políticos insistem em
fingir desconhecer que escolhas significam também renúncias.
Ubiratan Jorge Iorio, economista, é diretor
acadêmico do Instituto Mises Brasil e professor associado da Uerj.
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