No Brasil, os cidadãos têm serviço postal presente em todo o país e com uma das menores tarifas de carta do mundo, apesar de o Brasil ser o 5º maior país em extensão territorial. E os Correios cuidam disso sem depender de recursos do Tesouro Nacional, ou seja, bancam toda sua infraestrutura com suas próprias receitas.
Em
qualquer outro país, um serviço público prestado assim seria comemorado, pois
na maioria deles o Estado tem que bancar a universalização, ou seja, a presença
do serviço postal em todo o território, incluindo aqueles locais onde a demanda
não é suficiente para custear a infraestrutura.
Nos
EUA, berço do liberalismo e onde não se fala em privatizar os correios, o USPS
demanda anualmente bilhões de dólares de recursos do tesouro americano para
manter a universalização.
No
Brasil dos tempos atuais, porém, uma estatal que funciona e que nem depende de
recursos do Tesouro é uma afronta aos princípios do ultraliberalismo e precisa
ser apagada da história. Isso explica por que é tão importante para alguns
desmontar os Correios, privatizá-lo. E porque tentam basear essa decisão na
desconstrução dos resultados dos Correios, lançando mão, para isso, de toda
sorte de argumentos falaciosos e de meias-verdades, para induzir a sociedade a
acreditar que, para salvar os Correios, só mesmo o caminho da privatização.
O
fato é que os Correios são uma empresa resiliente, que já enfrentou uma CPI
feita para desviar o foco de outras empresas públicas e privadas onde realmente
ocorria corrupção, já superou uma sangria de bilhões de reais de dividendos
retirados além do que seria normal, já sobreviveu a indevidos congelamentos
tarifários e até mesmo à implantação de uma norma contábil controversa – CPC 33
– que passou a exigir a pré-contabilização de despesas que as empresas teriam
muitos anos à frente – bilhões de reais no caso de grandes empregadoras, como
os Correios e a Caixa.
Para
os lesa-Pátria que se enfileiram para tentar desmontar os Correios, vale toda
sorte de argumentos, que vão se modificando com o tempo, à medida em que os
argumentos são desmontados ao serem confrontados com a verdade.
Há
alguns meses, os Correios precisavam ser privatizados porque davam prejuízo.
Como os lucros da Empresa nos últimos anos mostraram que isso não era verdade,
passaram a argumentar que, mesmo sem dar prejuízo agora, os Correios
constituíam um risco fiscal para o Estado. Isso também veio abaixo com recente
estudo feito pela própria Empresa, que mostrou não haver risco de continuidade
operacional nos próximos dez anos. Mesmo assim, há alguns que continuam usando
indevidamente esses argumentos, ignorando o que já de conhecimento geral, da
mesma forma que recorrem a bordões como “berço do mensalão”, para se referir
aos Correios, mesmo sabendo que o pequeno foco de corrupção então detectado na
Empresa foi prontamente debelado e, como ficou demonstrado, a corrupção estava
mesmo era fora de lá. O ministro Paulo Guedes e seus auxiliares sabem bem
disso, mas continuam repetindo o argumento, para ver cola.
Para
esses que defendem a privatização de tudo, incluindo os Correios, pouco importa
o que acontecerá com a população, se pagará mais caro pelo serviço ou se ficará
sem atendimento em algumas regiões. Que morram, que fiquem sem atendimento,
quem manda morar no Alaska ou na cabeça do cachorro! O importante é desmontar o
paradigma que os Correios representam, para que possam continuar bradando que
nenhuma estatal funciona, que o Estado é sempre um mal gestor e que a
iniciativa privada é que sabe fazer as coisas.
No
caso do setor postal, temos que a última privatização ocorrida se deu em
Portugal, com resultados bem ruins para a população – aumento significativo de
preços e redução da rede de balcões (agências). E havia, como há aqui, a
promessa de o serviço ser mantido e melhorado, a universalização garantida etc.
E Portugal tem um terço da área do Rio Grande do Sul.
Outro
exemplo mais próximo foi o da Argentina, cujo correio foi privatizado nos anos
90 e teve que ser reestatizado, para que os cidadãos voltassem a ter um serviço
postal minimamente adequado.
Não
por acaso, nos 20 maiores países do mundo em extensão territorial nenhum
correio é privado. Dá para imaginar, portanto, a imensa tragédia que pode se
abater sobre os brasileiros se essa ideia de privatizar os Correios for levada
avante, afinal temos um país com extensão continental e com gigantescas
assimetrias sociais.
A
verdade é que não há razão para pensar em privatizar os Correios, exceto
motivação exclusivamente ideológica ou então o interesse em beneficiar
banqueiros, especuladores e rentistas, que seriam os únicos que lucrariam em
qualquer processo de privatização. Nos dois casos, trata-se de conduta
lesa-Pátria, que precisa ser combatida enfaticamente com boa informação e com o
desmonte da argumentação falaciosa usada para tentar convencer a sociedade da
necessidade de uma privatização que é completamente descabida, inoportuna e
visivelmente lesiva aos interesses nacionais.
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