Postalis cogita
criar fundo exclusivo para ativos podres
O Globo
13/09/2016
FLORIANÓPOLIS - Na
tentativa de aliviar seu déficit, uma das opções estudadas pela Postalis é
solicitar à Previc, órgão que supervisiona os fundos de pensão, a permissão
para criar um fundo exclusivo concentrando seus ativos podres. O fundo dos
profissionais dos Correios
vem tentando se livrar desses papéis já lançados como prejuízo,
mas a proposta recebida pela entidade até agora foi de apenas 4% do valor total
investido, afirmou o presidente da entidade, André Motta. Segundo o último
relatório anual da Postalis, o montante hoje provisionado (previsão de calote)
é de aproximadamente R$ 1,5 bilhão, considerando o valor investindo pelo fundo.
— A legislação não
permite, por isso teremos que conversar com a Previc sobre a criação de um
Fundo de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC) do tipo não padronizado.
Como não temos pressa, vamos avaliar o melhor modelo. Nós havíamos contratado
uma assessoria para se desfazer desses papéis, mas a proposta oferecida, de 4%,
não nos interessa. Seria uma irresponsabilidade — afirmou.
GREENFIELD:
INVESTIGAÇÃO SOBRE APLICAÇÃO
Assim como seus
principais pares, o segundo maior fundo de pensão do país por número de
participantes foi investigado na CPI da Câmara dedicada a irregularidades no
setor, é alvo da operação Greenfield, da Polícia Federal, e já está exigindo
contribuição extra dos participantes para tapar rombos do passado. O Postalis
criou uma comissão interna de análise sobre o FIP Multiner, que teria feito
parte do esquema investigado.
— O Postalis está
colhendo o maior número de informações sobre o caso para que chegue, se
possível, a alguma conclusão relevante. Posteriormente, outros investimentos
semelhantes passarão pelo mesmo processo — afirmou Motta. — Mas sem querer
tirar a responsabilidade dos fundos de pensão, eu acredito que a Greenfield
precisa gerar alguma mudança nas firmas auditorias. Elas são contratadas
justamente para avaliar esses investimentos — disse.
Em 2015, a Postalis
voltou a registrar déficit, de R$ 1,5 bilhão, e pode ter que lançar novo plano
de equacionamento. Segundo Motta, o fundo só saberá se ele vai ser de fato
necessário daqui a dois meses, quando será possível avaliar o desempenho dos
seus planos.
BRIGA COM BNY
MELLON: ‘MAIOR ATIVO’
Há um mês e meio no
cargo, o novo presidente da Postalis elencou a venda da carteira podre como uma
das três frentes de atuação na tentativa de resgatar a saúde das finança do
fundo de pensão dos funcionários dos Correios. As outros duas dizem respeito
aos cerca de R$ 5 bilhões que cobra do banco BNY Mellon na Justiça; uma dívida
de aproximadamente R$ 1,8 bilhão que os Correios têm com a fundação.
— Para nós da
Postalis, o maior ativo que a gente tem é a briga com o BNY Mellon. Os R$ 5
bilhões resolvem o problema do fundo. Com eles, eu consigo propor à Previc um
Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) e talvez melhorar as condições do
equacionamento — afirmou o executivo, que foi diretor de investimentos da
fundação entre 2013 e 2014.
A Postalis cobra do
banco americano valores perdidos em investimentos que geraram prejuízo, como a
compra de títulos privados atrelados às dívidas de Argentina e Venezuela. O BNY
argumenta que era apenas o administrador dos fundos que fizeram o investimento,
não os gestores das aplicações. Já o Postalis afirma que o administrador é
também responsável. O processo tramita no Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Motta afirmou ainda
que a disposição dos Correios em provisionar o R$ 1,8 bilhão de repasses não
pagos ao Postalis – referentes à Reserva Técnica de Serviço Anterior (RTSA) – é
um bom indicativo.
— O presidente dos
Correios esta conversando sobre a possibilidade de provisionar isso em balanço.
Não quer dizer que vai pagar, mas é um indicativo — disse Motta, que foi
nomeado para a Postalis com a chegada de Guilherme Campos, aliado do ministro
Gilberto Kassab (PSD-SP), ao comando da estatal.
(*O repórter viajou a convite da Abrapp)
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