Bolsa paulista encerra inquérito administrativo no Cade
Estadão
04 Outubro 2018
04 Outubro 2018
A B3 colocou um ponto final em inquérito
administrativo que se arrastava há cerca de dois anos e meio no Conselho Administrativo
de Defesa Econômica (Cade). A Bolsa firmou acordo com o órgão antitruste para
encerrar o processo que teve origem em denúncia feita pela ATS Brasil, que tem
planos de abrir uma bolsa de valores no Brasil. A empresa acusou a Bolsa de
dificultar a entrada de concorrentes. Hoje, as duas empresas travam um
procedimento arbitral, em curso há quase um ano.
No Termo de Compromisso de Cessação de
Prática (TCC) acordado, a Bolsa pagará uma contribuição pecuniária, para
encerrar o inquérito. Esse acordo não significa, porém, reconhecimento de culpa
ou ilicitude em relação às acusações. A exigência desse tipo de pagamento por
parte do Cade tem sido notada como uma tendência pelo órgão em casos de
condutas unilaterais, como foi esse caso em questão.
O Broadcast apurou que o julgamento foi em
linha com o esperado pela B3 e que já era aguardado, inclusive, o placar de
cinco a dois, visto que os conselheiros que votaram contra já vinham seguindo
esse posicionamento em outros casos.
A percepção, ainda, foi que manter o
inquérito não fazia mais sentido, visto que o Cade aprovou a união de
BM&FBovespa em março do ano passado e, na ocasião, foi aprovado também um
Acordo de Controle de Concentração (ACC), o qual prevê acesso de terceiros à
infraestrutura de serviços da central depositária (CSD, na sigla em inglês) da
B3.
O TCC assinado ontem passou a prever mais
detalhamentos. Dentre eles, a B3 terá de manter aberto o ambiente para a
realização de testes pelo terceiro interessado na utilização de seus serviços
no período em que se estiver negociando o contrato comercial ou enquanto a
arbitragem estiver em curso. Segundo fontes, tais detalhamentos estão em linha
com atual conduta da B3 em relação à ATS. Todo o acordo firmado é neutro,
ainda, quanto ao processo de arbitragem entre as partes.
Entenda o caso
A denúncia feita pela ATS ao Cade ocorreu no dia 7 de abril de 2016, exatamente um dia antes dos conselhos de administração de BM&FBovespa e Cetip chegarem a um acordo sobre a fusão e anunciarem ao mercado. Ao longo do inquérito, a ATS acusou a Bolsa de colocar preços para fornecer seus serviços que inviabilizavam seu projeto. Já a B3, conforme documentos que foram protocolados no Cade, rebateu, dizendo que apresentou diversas propostas diferentes, reduzindo preços, mas que a ATS não demonstrou, ao longo de todo o processo, interesse em chegar a um acordo. Na análise do ato de concentração da fusão de BM&FBovespa e Cetip, a ATS participou do processo como parte interessada, estando presente em diversas reuniões que ocorreram no Cade.
A ATS Brasil chegou a pedir autorização à
Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para operar como uma plataforma de bolsa
de valores no Brasil, em agosto de 2013. Mas o pedido não andou por conta da
falta de entrega de documentos e foi arquivado em 2016. A ATS argumentou, na
época, que não obteve a autorização do Banco Central para constituir sua
clearing, já que não conseguiu o fornecimento do serviço de depositária da
BM&FBovespa e, por isso, o processo na CVM não pôde prosseguir.
A ATS é um projeto capitaneado pela ATG,
empresa de Arthur Machado, que chegou a ser preso neste ano no âmbito da
Operação Rizoma, que é um desdobramento da Lava Jato e mira supostas
irregularidades envolvendo desvio de verbas dos fundos de pensão dos Correios -
o Postalis - e do Serpros.
Nenhum comentário:
Postar um comentário