Tribunal de São Paulo decide que só sindicalizados podem receber benefícios de acordo coletivo
Desacato
02/10/2018
02/10/2018
Apenas trabalhadores sindicalizados podem receber
os benefícios e reajustes dos acordos coletivos. A decisão é do juiz Eduardo
Rockenbach, da 30ª Vara de Trabalho de São Paulo. É válida apenas para São
Paulo, mas abre um precedente para outras decisões. Segundo o magistrado, “os
trabalhadores que não contribuem com a entidade sindical não têm o direito de
receber em sua folha de pagamento as conquistas garantidas pelo sindicato”.
“Se é certo que a sindicalização é
facultativa, não menos certo é que as entidades sindicais devem ser valorizadas
e precisam da participação dos trabalhadores da categoria, inclusive
financeira, a fim de se manterem fortes e aptas a defenderem os interesses
comuns”, acrescenta Rockenbach.
O exemplo da França
Em muitos países da Europa, como a França, a
lógica que levou o juiz brasileiro a tomar sua decisão, faz parte da legislação
do país, ou seja, por lá, somente o empregado sindicalizado recebe as
conquistas garantidas em acordo coletivo. O modelo é uma forma que valoriza e
fortalece as entidades sindicais e, por conseguinte, garante as conquistas dos
trabalhadores e a qualidade nas condições de trabalho do povo francês.
A lição dos nórdicos
Outro bom exemplo, que relaciona a qualidade
de vida e de trabalho e a igualdade de oportunidades ao fortalecimento das
entidades sindicais, vem dos países nórdicos. Noruega, Dinamarca e Suécia, que
estão sempre disputando os maiores Índices de Desenvolvimento Humano (IDHs) do
mundo.
Os melhores exemplos de desenvolvimento
humano do mundo estão relacionados à capacidade de organização de luta dos
trabalhadores, através dos sindicatos. O polonês Adam Przeworski, professor da
Universidade de Nova Iorque e um dos mais respeitados cientistas políticos da
atualidade, lembra que “é a luta organizada dos trabalhadores que gera
conquistas que resultam em melhores condições de vida e de trabalho”.
Przeworski avalia: “A democracia, em si mesmo, não gera igualdade. É um campo
de lutas organizadas, que criam incentivos e pautam as forças políticas para
uma sociedade melhor”, explica. Adam considera importante também a participação
dos cidadãos nos processos eleitorais, ainda que faça a ressalva da influência
do poder econômico nos pleitos.
“Em uma sociedade de mercado, sempre haverá
algum nível de injustiça social e desigualdade social. Talvez os países onde há
menos desigualdade sejam aqueles que têm sindicatos fortes, onde a classe
operária está organizada em um sindicato que tem recursos, que tem seus jornais
e suas instituições. Falo, sobretudo, dos países escandinavos, onde os
sindicatos têm muito peso frente às empresas. É inegável que, em outros países,
a sociedade é muito mais desigual”, conclui.
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