Para privatizar Correios, governo precisa reduzir número de funcionários
Correio Braziliense
20/01/2020
20/01/2020
Em meio a estudos sobre como
desligar servidores da estatal, governo corre contra o tempo para entregar a
empresa ao mercado a tempo hábil de colher os resultados ainda nesta gestão.
Hoje, são 100 mil trabalhadores
Com 100 mil funcionários, sendo
40 mil concursados, os Correios se tornaram uma pedra no
sapato das intenções do governo. O Executivo decidiu incluir a empresa no
Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) para que possa ser privatizada. No
entanto, o plano já se arrasta há um ano e a tarefa se mostrou muito mais
complexa do que imaginava o Ministério da Economia: a extensão da estatal e a
atuação no mercado postal exigem energia e tempo do governo. A principal
preocupação do Executivo é o que fazer com os trabalhadores da empresa. No ano
passado, um Plano de Demissão Voluntária resultou no desligamento de 7,3 mil
empregados públicos. Mas, para tornar a empresa atraente para o mercado, é
necessário acabar com as dívidas.
Apenas o Postalis, o fundo de
previdência dos trabalhadores dos Correios, apresenta rombo de R$ 11 bilhões,
deixado por governos anteriores e por esquemas de corrupção e pagamentos de
propina. As contas trabalhistas devidas aos funcionários podem afundar o
negócio. Caso não consiga vender, o Executivo estuda a liquidação da empresa
pública, o que poderia representar um grande entrave político e jogar água fria
na política de privatizações almejada pelo ministro Paulo Guedes.
Atualmente, os Correios
concentram 91% da distribuição postal nos municípios brasileiros. O temor do
governo é que a privatização prejudique seriamente o serviço, que já recebe
fortes críticas da população, como extravio de encomendas e demora excessiva na
entrega de cartas. A comunicação por correspondências, assim como outros
serviços postais, está em queda no Brasil. Em 2019, os Correios realizaram 5,9
bilhões de entregas — 12% a menos do que em relação ao ano anterior, que fechou
com 6,7 bilhões.
No entanto, a atividade ainda é
considerada essencial. Atualmente, empresas como a Fedex e a Loggi atuam no
mercado de entregas, e ganhariam espaço com a privatização dos Correios, que
teria uma estrutura menor. Nas mãos do setor privado, de acordo com avaliações
recebidas pelo governo nos bastidores, teria o quadro com metade dos
funcionários atuais. Algumas propostas falam em 40 mil trabalhadores, ou seja,
60% a menos do que o contingente atual. Mas a conta relacionada ao desligamento
dos servidores não sairia barata. Os aprovados em concursos dos Correios são
regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e têm praticamente os
mesmos direitos de quem atua na iniciativa privada. O presidente da empresa,
general Floriano Peixoto, assegura que todos os direitos serão garantidos em
qualquer cenário.
Concentração
O presidente da Câmara, Rodrigo
Maia (DEM-RJ), aprova a privatização dos Correios, para acabar com o monopólio
postal. No entanto, as empresas privadas que assumirem o serviço podem se
concentrar apenas nas grandes capitais, deixando cidades do interior sem opção,
justamente onde é mais essencial. Em meio às discussões, o general José Orlando
Cardoso foi empossado como presidente da Postal Saúde, que administra o plano
dos trabalhadores da empresa. O aumento do custo deste serviço é alvo de
ameaças de greve dos funcionários.
De qualquer forma, uma eventual
privatização não sairá em 2020. Segundo o secretário de Desestatização,
Desinvestimento e Mercados do Ministério da Economia, Salim Mattar, o Executivo
contratará uma consultoria para avaliar as alternativas do modelo de
privatização dos Correios e, por conta disso, dificilmente a venda da companhia
ocorrerá neste ano. “A empresa tem uma complexidade muito grande, tem um
monopólio estatal e a questão da universalidade da entrega da carta (que está
prevista na Constituição Federal), tem mais de 100 mil funcionários. Por isso,
os Correios vão dar um pouco mais de trabalho”, afirmou. “A empresa tem ativos
que valem. Uma liquidação está fora de cogitação”, garantiu.
Marcus Vinicius Macedo Pessanha,
especialista em direito administrativo, regulação e infraestrutura, afirma que
o caminho comum, nos casos de privatizações, é a criação de um programa de
demissão voluntária. “As pessoas que trabalham nas empresas públicas são
contratadas pelo regime celetista. A diferença em relação à iniciativa privada
é que as contratações são por concurso público. O comum neste caso é a criação
de um programa de demissão voluntária para reduzir o quadro de servidores antes
da privatização”, explica.
Cessão
Existe ainda a possibilidade de que alguns empregados dos Correios sejam deslocados para outras empresas públicas. O governo já vem recebendo pedidos de cessão por outras áreas do Executivo. No entanto, o temor da equipe econômica é de que as transferências, se realizadas, enfraqueçam o programa de privatização, que tem como foco reduzir o tamanho da máquina pública e os gastos com pessoal. Dessa forma, cessões poderiam gerar maior rejeição a privatizações futuras.
Existe ainda a possibilidade de que alguns empregados dos Correios sejam deslocados para outras empresas públicas. O governo já vem recebendo pedidos de cessão por outras áreas do Executivo. No entanto, o temor da equipe econômica é de que as transferências, se realizadas, enfraqueçam o programa de privatização, que tem como foco reduzir o tamanho da máquina pública e os gastos com pessoal. Dessa forma, cessões poderiam gerar maior rejeição a privatizações futuras.
A economista Elena Landau,
especialista em privatizações, aponta que poderia ser criada uma empresa extra
para absolver os funcionários. Para ela, a dívida com encargos trabalhistas, se
for elevada, tira a atratividade do negócio. “Você pode fazer um PDV antes, ou
deixar funcionários e dívidas em uma empresa separada e o governo assume. A
dívida com os encargos trabalhistas pode ser tão grande que não interessa à
gestão privada. Tem que estudar, não pode usar isso como desculpa para não
começar. Já tem um ano e nada foi feito”, destaca.
Carroça na frente dos bois
Diante da incerteza de qual será
o futuro da estatal, entidades representativas de trabalhadores da empresa se
juntaram para criar o movimento Frente Ampla Todos pelos Correios. O principal
objetivo do grupo é ressaltar a importância de o Brasil contar com um serviço
postal 100% público. O vice-presidente da Associação dos Profissionais dos
Correios (Adcap), Marcos Cesar Alves, acredita que
há um equívoco por parte do governo federal ao incluir a instituição na
carteira do PPI e alerta que o Executivo está “colocando a carroça na frente
dos bois”.
“O Brasil tem um território
gigantesco, e os Correios estão presentes em todos os municípios, com uma
infraestrutura já instalada, que funciona bem e é paga pela própria empresa,
pois a estatal não depende de recursos do Tesouro Nacional. Além disso, os
níveis de qualidade do serviço ultrapassam 98% no índice geral. Atualmente,
temos uma situação estável, sendo que os Correios são usados pelos próprios
concorrentes, visto que eles não conseguem fazer entregas no interior do Amapá,
por exemplo”, cita.
Alves acredita que, antes de
decidir por um plano de privatização, o governo federal deveria implementar um
marco regulatório, assim como foi feito há alguns anos com o serviço de
telecomunicações e, em 2019, com o saneamento básico. Ele acrescenta que é
difícil entender a motivação de se privatizar a estatal visto que são poucos
países com um serviço de correio privado: Malásia, Malta, Holanda, Cingapura,
Aruba, Grã-Bretanha, Líbano e Portugal. Neste último, a população tem
protestado e saído às ruas pedindo uma “renacionalização” dos correios.
Protesto
Protesto
Diante da incerteza de qual será
o futuro da estatal, entidades representativas de trabalhadores da empresa se
juntaram para criar o movimento Frente Ampla Todos pelos Correios. O principal
objetivo do grupo é ressaltar a importância de o Brasil contar com um serviço
postal 100% público. O vice-presidente da Associação dos Profissionais dos
Correios (Adcap), Marcos Cesar Alves, acredita que há um equívoco por parte do
governo federal ao incluir a instituição na carteira do PPI e alerta que o
Executivo está “colocando a carroça na frente dos bois”.
“O Brasil tem um território
gigantesco, e os Correios estão presentes em todos os municípios, com uma
infraestrutura já instalada, que funciona bem e é paga pela própria empresa,
pois a estatal não depende de recursos do Tesouro Nacional. Além disso, os
níveis de qualidade do serviço ultrapassam 98% no índice geral. Atualmente,
temos uma situação estável, sendo que os Correios são usados pelos próprios
concorrentes, visto que eles não conseguem fazer entregas no interior do Amapá,
por exemplo”, cita.
Alves acredita que, antes de
decidir por um plano de privatização, o governo federal deveria implementar um
marco regulatório, assim como foi feito há alguns anos com o serviço de
telecomunicações e, em 2019, com o saneamento básico. Ele acrescenta que é
difícil entender a motivação de se privatizar a estatal visto que são poucos
países com um serviço de correio privado: Malásia, Malta, Holanda, Cingapura,
Aruba, Grã-Bretanha, Líbano e Portugal. Neste último, a população tem
protestado e saído às ruas pedindo uma “renacionalização” dos correios.
Cinco perguntas para general
Floriano Peixoto, presidente dos Correios
Revisão de processos internos Desde que o senhor assumiu, no ano passado, o que mudou a empresa?
Revisão de processos internos Desde que o senhor assumiu, no ano passado, o que mudou a empresa?
A Diretoria dos Correios promoveu a mudança do foco de atuação da empresa. Agora, a ordem é garantir a sustentabilidade financeira e a máxima eficiência na prestação de serviços. Estamos revisando o portfólio de produtos e atendimento ao cliente, firmando novas parcerias com entes públicos e privados, modernizando processos internos, racionalizando a carteira imobiliária e promovendo uma reestruturação interna que viabiliza as operações de maneira eficaz.
Por quais motivos chegamos à
situação de se discutir a privatização dos Correios?
Existe no programa de governo do Presidente Jair Bolsonaro a premissa da desburocratização do Estado, do investimento de esforços e recursos em temas prioritários para o cidadão, que são, principalmente, a educação, a saúde e a segurança. Esse contexto inclui a desestatização de empresas públicas como os Correios.
Existe no programa de governo do Presidente Jair Bolsonaro a premissa da desburocratização do Estado, do investimento de esforços e recursos em temas prioritários para o cidadão, que são, principalmente, a educação, a saúde e a segurança. Esse contexto inclui a desestatização de empresas públicas como os Correios.
Comenta-se sobre a abertura de
capital da estatal ou até a liquidação total. Qual a sua avaliação sobre o
futuro dos Correios?
Conforme determinado pelo Decreto nº 10.066/2019, os estudos de viabilidade econômico-financeira coordenados pelo BNDES indicarão a melhor alternativa para os Correios. É um processo semelhante ao ocorrido com o Sistema Telebrás, que apontou o modelo que hoje temos no setor. O processo já está em andamento e, quando estiver concluído, com certeza teremos uma resolução que priorizará a sociedade e o cidadão. Os estudos conduzidos pela Casa Civil serão enviados a instâncias superiores para deliberação que serão cumpridas pelos Correios.
Conforme determinado pelo Decreto nº 10.066/2019, os estudos de viabilidade econômico-financeira coordenados pelo BNDES indicarão a melhor alternativa para os Correios. É um processo semelhante ao ocorrido com o Sistema Telebrás, que apontou o modelo que hoje temos no setor. O processo já está em andamento e, quando estiver concluído, com certeza teremos uma resolução que priorizará a sociedade e o cidadão. Os estudos conduzidos pela Casa Civil serão enviados a instâncias superiores para deliberação que serão cumpridas pelos Correios.
Em caso de privatização, como
fica a situação dos franqueados?
Os estudos conduzidos pelo BNDES também deverão tratar desse assunto, uma vez que a rede franqueada representa importante parcela das operações dos Correios.
Os estudos conduzidos pelo BNDES também deverão tratar desse assunto, uma vez que a rede franqueada representa importante parcela das operações dos Correios.
Qual seria o destino dos
empregados concursados em uma eventual privatização?
Os funcionários dos Correios, como celetistas que são, podem ficar tranquilos, pois terão assegurados os direitos trabalhistas.
Os funcionários dos Correios, como celetistas que são, podem ficar tranquilos, pois terão assegurados os direitos trabalhistas.
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