No Brasil da atualidade, instituições e pessoas são
sistematicamente atacadas pelo governo, com mentiras que tentam justificar a
imposição de decisões absolutamente desprovidas de razão e lesivas à sociedade.
Os Correios são uma dessas vítimas.
Enquanto o Congresso Nacional e o Judiciário reiniciavam
nesse dia 02/08 seus trabalhos e o chefe do Estado se ocupava em fustigar mais
uma vez a Justiça Eleitoral, além de destratar desafetos e opositores no
atacado, o Ministro da Propaganda utilizou rede nacional de TV para defender a
intenção do governo de privatizar os Correios.
A privatização de uma grande estatal, que atende todos os
brasileiros, é, sem dúvida, um assunto relevante, que merece a atenção dos
cidadãos. Porém, a forma como esse assunto tem sido tratado até o momento pelo
governo mostra exatamente o contrário, indicando que a ação do ministro tem
mais o sentido de seguir na trilha de forçar a aprovação de um projeto
inconsistente, de “passar a boiada”, para favorecer alguns prejudicando todos
os demais, do que de cuidar bem do interesse público.
Inconstitucionalidade
O projeto defendido pelo Ministro da Propaganda é
inconstitucional. Para passar a tratar o serviço postal como exploração de
atividade econômica, passível de execução pela iniciativa privada, seria
necessário modificar a Constituição Federal, que é muito clara em estabelecer
que o serviço postal deve ser mantido pela União. Isso está muito bem detalhado
na ADI-6635, que tramita no STF, já contando com parecer favorável da PGR à
tese da impossibilidade de se fazer a privatização por lei, como intenta o
governo. O Ministro sabe bem disso, mas continua mentindo, alegando que projeto
é constitucional.
Universalização
Estudos e trabalhos técnicos do BNDES e consultorias
Tramitação do projeto na Câmara
Corrupção – Mensalão e Postalis
Na linha de procurar macular a imagem dos Correios, para
tentar justificar para a população a privatização, ainda que isso signifique
depreciar o ativo, o Ministro da Propaganda mencionou a ocorrência do mensalão
e dos rombos no Postalis, questões impertinentes ao assunto privatização e
inadequadamente colocadas no contexto. O chamado mensalão alcançou inúmeros
órgãos públicos, empresas privadas e parlamentares. E as apurações realizadas
mostraram que o foco de corrupção detectado nos Correios era bem pequeno no
quadro geral e foi prontamente sanado na ocasião. E quanto ao Postalis, como
diversos outros grandes fundos de pensão brasileiros, registrou no passado
perdas expressivas associadas a má gestão, não se tratando de um caso peculiar,
como intenta fazer parecer a argumentação.
Resultados de 2020
Ao mencionar apenas os resultados de 2020, ignorando que os
balanços dos Correios desde 2017 registraram superávits, o Ministro da
Propaganda tenta iludir a audiência, passando a impressão de que só agora, no
atual governo, os resultados foram positivos. Além disso, o Ministro da Propaganda
sabe, mas não diz, que os déficits apontados nos balanços dos Correios em anos
anteriores se deveram a decisões e omissões dos Ministérios da Fazenda e do
Planejamento, hoje reunidos no Ministério da Economia, e não a outros fatores,
como problemas na gestão da Empresa.
Investimentos
Cartas e Encomendas – mudança do perfil do tráfego
O volume de cartas vem declinando e o de encomendas
aumentando. Isso é fato. Ocorre, porém, que isso não é fato novo. Acontece há
décadas e os Correios têm se ajustado à mudança de demanda. O envio de
correspondências ainda se aplica hoje em muitas situações e isso continuará
acontecendo, ainda que em volumes decrescentes. Não há novidade nisso e nada aí
que justifique a privatização.
Crescimento dos Correios
O crescimento dos Correios depende de boa gestão e de visão
de longo prazo. Casos recentes de privatização no setor, como o de Portugal,
mostram que o operador privado busca, na verdade, extrair o máximo de lucro
possível no menor tempo, para distribuir dividendos a seus acionistas. Para
isso, vale fechar agências, demitir pessoal, aumentar preços e piorar a
qualidade do serviço. Após a privatização, o correio português não avançou para
ser um grande player mundial, mas sim produziu lucros para seus acionistas e
insatisfação para a população e para as empresas que dependem do serviço
postal. Não procede, portanto, a afirmação de que a privatização seja
necessária ao desenvolvimento dos Correios. O exemplo do correio estatal
francês está aí para demonstrar bem isso.
Sobrevivência dos Correios
Os Correios sobreviveram bem a 358 anos de história e
vislumbram hoje um cenário promissor para seus negócios, com o crescimento
explosivo do comércio eletrônico. Podem sobreviver muito bem se o Congresso
Nacional fizer seu papel e não se iludir com as mentiras produzidas em série
para tentar justificar essa má ideia e sua urgência. Esse caminho tem potencial
para prejudicar muito os brasileiros e beneficiar tão somente especuladores e
banqueiros, concentrando ainda mais a renda no país. Os brasileiros não
precisam pagar mais essa conta; precisam ser salvos da irresponsabilidade do
governo. E o Congresso Nacional e a Justiça podem fazer isso.
ADCAP – Associação dos Profissionais dos Correios
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