Fundos de pensão
pedem indenização de R$
400 milhões
Previdência Total
29/08/2016
Os fundos de pensão
Petros e Postalis,
mais uma dezena de institutos de previdência de municípios e Estados e o KDB,
banco de desenvolvimento da Coreia, pedem uma indenização de R$ 400 milhões
para Santander, Deutsche Bank, Banco Petra, Trendbank e Planner Corretora. A
acusação é de que todos eles deixaram de cumprir seus deveres de fiscalizar as
operações que circularam pelo Trendbank, um fundo de crédito que estava repleto
de empréstimos duvidosos com notas frias e que não foram pagos. As informações
são do jornal O Estado de S.Paulo.
Os acusados
partiram para o ataque. O Santander diz que os dois fundos de pensão, junto com
os outros cotistas, deram poderes ao Trendbank para centralizar a guarda de
documentos, o que teria levado às fraudes. O Santander cita também o relatório
da CPI dos Fundos de Pensão que concluiu que administradores do Petros e
Postalis teriam envolvimento com esquemas fraudulentos no Trendbank. A
controvérsia em torno do fundo de crédito do Trendbank nasceu quando o fundo
registrou inadimplência de 70%, em 2013. Um fundo de crédito empresta dinheiro
a empresas, tomando como garantia notas fiscais de contas a receber. Na época,
as operações duvidosas se tornaram evidentes e se descobriu uma série de notas
falsas na carteira do fundo.
Para se ter uma
ideia do tamanho do problema, cerca de um quarto das notas fiscais que
garantiam empréstimos tinham origem nos negócios do Grupo Rock, de Adir Assaf.
O lobista tem em seu currículo três operações da Polícia Federal. Ele é
apontado como o maior lavador de dinheiro de organizações criminosas que
atuavam nos esquemas de corrupção da Petrobrás, Eletronuclear e Delta. Para
lavar dinheiro de corrupção, segundo as acusações do Ministério Público, o
lobista se utilizava justamente das empresas do Grupo Rock.
Entre as faturas
que foram entregues pelo Rock ao fundo para tomar R$ 100 milhões emprestado,
estavam notas de empresas conhecidas, como a Andrade Gutierrez, CCR, Galvão
Engenharia, UTC, entre outras, que alegavam não ter prestado serviços das notas
referidas. O advogado do Trendbank, Flávio Galdino, diz no processo movido
pelos cotistas do fundo que seu cliente não tem culpa e seria uma vítima. O que
o colocaria nessa condição é o fato de o banqueiro, dono do Trendbank, Adolpho
Melo, ter R$ 80 milhões aplicados no fundo. "Hoje é fácil perceber que
muitas dessas empresas causam inúmeras desconfianças por estarem ligadas à
Operação Lava Jato, no período em que o Trendbank atuou como gestor, eram
bem-vistos os títulos envolvendo empresas como a construtora Andrade
Gutierrez."
Contratos respeitam
legislação, diz CCR
A CCR Nova Dutra
admitiu ao Trendbank ter feito negócios com a Rock Star, de Adir Assad, mas
disse que, quando as operações foram fechadas com o fundo, já não havia mais
negócio em andamento. Em nota, a CCR reitera que todos os seus contratos com
fornecedores são firmados "em conformidade com a legislação".
Na estrutura de um
fundo de investimentos, de um lado estão os investidores que aplicam seus
recursos, de outro estão o gestor, o administrador e o custodiante. Todos eles
com uma função específica de fiscalização e de responsabilidade sobre os tipos
de aplicações que são feitas. No caso do processo do Trendbank, a defesa dos
prestadores de serviço gira em torno do que os próprios investidores
determinaram como regras para o fundo.
O Santander, por
exemplo, era custodiante e sua função era verificar as notas fiscais e
guardá-las. Mas o banco diz, no processo, que seguiu estritamente o que estava
no regulamento que foi aprovado pelos investidores e que previa que a guarda
das notas ficasse com o próprio Trendbank, que também era gestor do fundo. A
alegação de que o Trendbank tinha plenos poderes delegados pelos investidores
também foi feita pelo banco Petra, no processo. O Petra foi administrador por
um período e sua função era fiscalizar, mas afirma que enquanto esteve à frente
do fundo nenhuma operação irregular foi feita.
A Planner, que mais
tarde substituiu o Petra na administração, diz, por sua vez, que quando assumiu
o fundo todo o risco de crédito já estava estabelecido e o que fez foi apenas
renovar algumas das operações. Também coube a Planner identificar os problemas,
depois que alguns relató- rios de auditoria apontaram uma série de notas falsas
no fundo. "Fomos o inocente útil", diz o diretor Artur Figueiredo. Já
o Deutsche, que foi custodiante antes do Santander, também se esquiva afirmando
que as operações apontadas como fraudulentas aconteceram antes de seu período
de custódia. Fora do processo, poucos querem falar do assunto.
As construtoras não
quiseram comentar, tampouco o banco Petra e o Petros, que tem R$ 30 milhões
registrados como perdidos na operação. O Santander diz que não comenta casos de
clientes. O Postalis informou que o prejuízo que teve foi de R$ 68,2 milhões. Os
dois fundos de pensão ainda aguardam investigações para tomar medidas em
relação às acusações na CPI dos Fundos de pensão. O banco KDB, que é o maior
cotista do fundo, e o advogado de Adir Assad não retornaram ligações.
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