Postalis cobra R$ 5
bilhões de banco americano
Época
15/08/2016
15/08/2016
nova direção do Postalis (fundo de pensão
dos funcionários dos Correios)
atua em três frentes para evitar que os funcionários e a estatal tenham de aumentar
as contribuições extras, atualmente em quase 18%, sobre os benefícios para
cobrir o equacionamento do rombo de 2015.A principal delas envolve cobranças
judiciais de R$ 5 bilhões por prejuízos supostamente causados pelo banco de
investimentos americano BNY Mellon. O plano também inclui a cobrança de uma
dívida dos Correios, hoje em R$ 1,5 bilhão, e a venda de 32 títulos que já
foram baixados a prejuízo - que somam R$ 1,7 bilhão, mas devem ser repassados
com deságio generoso -, segundo o novo presidente da entidade, André Luis
Carvalho de Motta e Silva.
As contribuições extras foram determinadas
aos quase 76 mil funcionários, aposentados e pensionistas, além da estatal
patrocinadora, para cobrir o rombo do plano de benefício definido (um tipo de
plano mais antigo, que foi suspenso a novos participantes, em que o benefício
era previamente estipulado, independentemente da evolução das contribuições,
conhecido pela sigla BD).
A reportagem apurou com a direção do
Postalis que a briga judicial com o BNY Mellon vai se dar até mesmo fora do
país. A fundação cobra R$ 5 bilhões do banco americano por conta de perdas com
títulos emitidos por instituições financeiras no exterior lastreados na dívida
da Argentina e da Venezuela, por exemplo.
O Postalis também entrou com representação
no Banco Central alegando que o BNY Mellon colocou todo o sistema financeiro
sob risco sistêmico com a gestão dos papéis do Postalis. Procurado, o Banco
Central respondeu, em nota, que não comenta casos específicos e atividades de
fiscalização.
Déficit
Pelas novas regras de equacionamento de
déficit dos fundos de pensão, o desconto mensal do plano BD do Postalis ficou
determinado em 17,92% do valor da aposentadoria, da pensão ou do valor previsto
para o benefício por 23,5 anos. Começou a ser descontado no fim de junho,
depois de ações que suspenderam o desconto. Essa contribuição é referente ao
equacionamento do déficit até 2014. O problema é que o fundo continuou no
vermelho em 2015 (R$ 1,4 bilhão). As contribuições teriam de aumentar para cobrir
esse buraco que não para de crescer - no acumulado até o primeiro semestre já
ultrapassou R$ 2 bilhões.
"Estamos correndo muito para permitir
que não haja aumento da contribuição ou que seja diminuta, mas se o plano
fracassar há, sim, a possibilidade de a contribuição extra aumentar. Não posso
mentir", disse Silva, em sua primeira entrevista como presidente do
Postalis, depois de enfrentar a rebeldia do conselho fiscal, que resistia à
troca da direção na entidade. Ligado ao PMDB, Silva dirigiu o Banco de Brasília
e a Terracap, estatais do Distrito Federal e foi diretor de investimentos do
Postalis.
O nome dele foi indicado por Guilherme
Campos, do PSD, novo presidente dos Correios, mas o conselho fiscal trabalhou
para manter Paulo Furtado, indicação do PDT, do ex-presidente dos Correios,
Giovanni Queiroz. A Previc, que fiscaliza o setor, deu autorização para a
mudança.
Quando assumiu o cargo de diretor de
investimentos, Silva deu uma guinada conservadora no perfil de investimentos da
fundação. O fundo de pensão comprou cerca de R$ 2 bilhões em títulos públicos,
que eram quase inexistentes na carteira. O principal motivo do rombo de R$ 5,6
bilhões do plano de benefício definido que começou a ser equalizado neste ano
foi a performance dos investimentos (R$ 2,7 bilhões).
A lista de maus investimentos da fundação
vai além dos papéis atrelados à dívida da Argentina e da Venezuela. Inclui
aplicações em títulos de bancos liquidados (Cruzeiro do Sul e BVA) e ações de
empresas de Eike Batista. A parte do déficit derivada de alterações nas
premissas do plano, como mudança na expectativa de mortalidade e de juros, foi
de R$ 1,7 bilhão.
"Trabalhamos com esse tripé para
resgatar a credibilidade nas duas pontas: os participantes e assistidos
voltarem a acreditar que o Postalis vai garantir o futuro para a aposentadoria
e o mercado crer que não há restrições aos dirigentes, o que não comprometerá
os futuros investimentos", disse Christian Scheneider, que presidiu a
operadora paranaense de telefonia Sercomtel, e atual diretor de investimentos
do fundo.
As informações são do jornal O Estado de S.
Paulo.
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