Privatizar não depende de lucro ou prejuízo da estatal
Veja
25/01/2019
25/01/2019
O vice-presidente general Hamilton Mourão
disse não ser favorável à privatização dos Correios,
“por enquanto”. E assinalou: “Os dados que eu tenho hoje é que a empresa dos
Correios está ficando superavitária, não tem mais gastos de recursos da nação”.
Esse é também o ponto de vista defendido pela
velha esquerda, segundo a qual não se deve privatizar empresas estatais que dão
lucro. O argumento foi esgrimido quando o governo FHC decidiu privatizar a
Vale. A ideia era a de que a privatização deveria cingir-se às estatais
deficitárias, que dependem do Tesouro para sobreviver. Equivale a transferir um
abacaxi para o setor privado.
O critério para privatizar estatais é de
outra natureza. Começou a ser aplicado no fim do século XIX no Japão e a partir
dos anos 1980 na Europa. O princípio é o de que o Estado somente deve exercer
atividades empresariais se o setor privado não for capaz de fornecer bens e
serviços essenciais ao desenvolvimento e à segurança nacional.
Eram os casos de atividades como as de
bancos, transporte ferroviário, mineração, energia elétrica, telecomunicações e
outras. Elas exigiam níveis de investimento superiores à capacidade do setor
privado, inclusive do sistema financeiro, em prover o seu respectivo
financiamento.
O setor público, mesmo quando há inequívoca
competência de gestão, tende a gerar ineficiências ao operar empresas. Isso se
deve à troca frequente da sua administração nas mudanças de governo e aos
custos de transação associados ao setor público, como é o caso da observância
de regras de concorrência pública típicas do governo.
Afora isso, as estatais podem sofrer a
interferência dos governos da hora, como ocorreu na Petrobras durante o período
petista, particularmente no governo de Dilma Rousseff. A empresa quase quebrou
por causa da corrupção e do controle dos preços de seus produtos para disfarçar
os efeitos inflacionários da desastrosa política econômica de então.
Não há razão para manter os Correios sob
controle do governo. O país dispõe hoje de capacidade empresarial e robustez
financeira para que o setor privado assuma o controle da empresa. Tampouco
existem motivos de segurança nacional para não privatizá-la.
A justificativa da criação de empresas
estatais ficou para trás. Nem mesmo o critério de “empresa estratégica”, dos
tempos da II Guerra, pode ser invocado para resistir à venda de empresas
estatais como o Banco do Brasil e a Petrobras. Neste caso, a dificuldade, por
ora intransponível, é a oposição da sociedade brasileira, ainda embalada por
argumentos equivocados sobre a necessidade de manter tais empresas no seio do
governo.
A privatização dos Correios deve ser decidida
pelo critério de oportunidade e não porque a empresa dá lucro ou prejuízo.
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