ADCAP
04/08/2020
04/08/2020
Em 2019, ao julgar o dissídio
coletivo dos Correios, o TST emitiu um acórdão que, entre suas
cláusulas, estabeleceu a vigência do instrumento por dois anos, ou seja, até
agosto de 2021.
Apesar de o acórdão trazer
reduções aos benefícios dos trabalhadores, a direção dos Correios, mesmo assim,
procurou o Presidente do STF e obteve uma liminar suspendendo essa cláusula de
vigência do acórdão e outra relacionada ao plano de saúde dos trabalhadores.
A partir dessa liminar, que
persiste em vigor até hoje, a direção dos Correios modificou o compartilhamento
do plano de saúde dos trabalhadores, o que resultou no abandono do plano por
mais de 15.000 desses trabalhadores, que voltaram com suas famílias para a fila
do SUS, por não terem como arcar com o aumento do valor da mensalidades mais o
aumento do compartilhamento estabelecido.
E agora, quando completa um ano
do acórdão, a direção dos Correios, alegando vencimento do acordo trabalhista
em vigor e aproveitando-se da pandemia, busca “passar a boiada” e reduzir
significativamente a remuneração dos trabalhadores.
Os trabalhadores dos Correios
são, em sua maioria, carteiros e atendentes. Na média, esses trabalhadores já
recebem o menor salário dentre as estatais do governo federal (o salário
inicial dos carteiros é R$ 1.757,48). Não são, portanto, marajás, mas sim
trabalhadores como tantos outros brasileiros, que precisam se esforçar muito
para conseguir arcar com as despesas normais de uma família. Quem tem na
família alguém que trabalha nos Correios sabe bem disso.
Importante observar, também, que os trabalhadores dos Correios produzem as receitas que pagam seus salários, diferentemente do que acontece com diversas outras categorias, incluindo a dos militares, que, além de ganharem mais, dependem totalmente da arrecadação de impostos para a composição de seus salários – e, mesmo assim, tiveram aumentos salariais e não reduções, como tenta impor unilateralmente a direção dos Correios.
Importante observar, também, que os trabalhadores dos Correios produzem as receitas que pagam seus salários, diferentemente do que acontece com diversas outras categorias, incluindo a dos militares, que, além de ganharem mais, dependem totalmente da arrecadação de impostos para a composição de seus salários – e, mesmo assim, tiveram aumentos salariais e não reduções, como tenta impor unilateralmente a direção dos Correios.
Diante deste quadro, é importante
que a sociedade receba informações corretas sobre a situação, pois pode se ver
diante de uma greve que lhe trará prejuízos e precisará entender por que isso
aconteceu e quem lhe deu causa.
Assim, reforçamos alguns pontos
relevantes para o entendimento da situação:
Não existe Acordo Coletivo
em 2020 – O TST estabeleceu que o atual acordo tem vigência até 2021.
Basta, portanto, que se cumpra o que ali está estabelecido. O STF julgará a
liminar que suspendeu essa vigência no próximo dia 14/08. Terá, então,
oportunidade de corrigir a situação, restabelecendo a vigência do acórdão.
A ausência de processo de
negociação – Apesar de falar em “negociação”, o que a direção dos Correios
tem feito é apresentar uma série de cortes inaceitáveis de benefícios já
historicamente incorporados, o que empobrecerá ainda mais os trabalhadores,
usando a pandemia como justificativa ou uma suposta orientação da SEST, do
Ministério da Economia. Nenhum dirigente sindical dos Correios teve sequer uma
única oportunidade de conversar com o Presidente dos Correios nesse um ano de
gestão. Não há, portanto, como se falar em negociação em curso, mas sim em
imposição intempestiva e descabida de uma brutal redução dos salários dos
trabalhadores dos Correios pela direção da Empresa, como a supressão de
rubricas de até 45% dos salários dos Carteiros.
Necessário lembrar, também, que a
maioria dos benefícios dos empregados dos Correios têm mais de 20 anos e são
fruto de negociações que buscaram minimizar o impacto de encargos trabalhistas
que seriam assumidos pelos Correios na concessão direta de reajustes salariais,
uma prática bastante comum nas empresas.
A continuidade das
operações dos Correios – Apesar da pandemia, os Correios, como
operadores de atividade essencial, continuam operando e atendendo, inclusive,
ao aumento de demanda do comércio eletrônico. Como ocorre, porém, com as
grandes transportadoras, os Correios enfrentam problemas pontuais quando
ocorrem casos de COVID-19 em suas unidades. Nessas ocasiões, são necessárias
providências para testar e afastar pessoas do trabalho, assim como
substitui-las provisoriamente, e isso tem reflexos do tempo de prestação dos
serviços. Mesmo nesse quadro complexo, da mesma forma que as gôndolas dos
supermercados estão sendo abastecidas, as encomendas do comércio eletrônico
também estão sendo entregues.
A saúde do trabalhador dos
Correios – Apesar de a direção da Empresa ter demorado muito a abastecer
as unidades dos materiais de proteção necessários e de ainda haver falta desses
materiais em muitos locais, os trabalhadores continuam a desenvolver suas
atividades, muitas vezes arcando com a aquisição desses materiais. Diversos
trabalhadores dos Correios já contraíram a COVID-19 e alguns faleceram em
decorrência da doença. A Empresa não tem divulgado os números a respeito,
apesar das cobranças a respeito já feitas pelas entidades representativas.
Um período de pandemia deveria
ser marcado pelo reconhecimento daqueles que, por força da atividade essencial
que exercem, se colocam em risco para que as demais pessoas possam ter algum
conforto em suas vidas. Nesse conjunto de trabalhadores mais expostos, estão os
médicos, enfermeiros, policiais, bombeiros e os carteiros e atendentes dos
Correios. Não há, portanto, nenhum cabimento ou justiça na atitude da direção
dos Correios de tentar forçar uma situação para reduzir a remuneração dos
trabalhadores em plena pandemia.
Esperamos que a sociedade
compreenda isso e não se deixe levar por fake news que tentam atribuir aos
trabalhadores dos Correios a responsabilidade por uma situação que está sendo
criada exclusivamente por decisões descabidas da direção da Empresa, as quais, se
implementadas, tirarão o pão da mesa de quem não mereceria passar por isso,
além de arranhar de forma severa a própria imagem da organização.
Direção
Nacional da ADCAP – Associação dos Profissionais dos Correios
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