Outras Cartografias: Como os Correios integraram o Brasil
Em mapas, a evolução do serviço
postal brasileiro, em mais de 300 anos, até abranger todo o território nacional.
Crucial da entrega de vacinas às eleições, será decisivo no pós-pandemia, com o
crescimento do e-commerce. Por isso, querem privatizá-lo…
Outras Palavras
27/08/2020
Por Igor
Venceslau, na coluna Outras Cartografias
No Brasil, os Correios são
o principal agente de integração do território. Com 5570 municípios agrupados
em 26 estados, além do Distrito Federal, não é tarefa fácil conectar regiões
tão distintas como o Sul e a Amazônia, no quinto maior país do planeta. Mas não
se constrói essa infraestrutura continental do dia para a noite: única empresa
presente em todos os municípios, demorou mais de 300 anos para alcançar essa
capilaridade.
Mas o que faz os Correios? Não entrega só
cartas, como no passado, mas é cada vez mais essencial com o advento do
comércio eletrônico. Hoje 3 em cada 4 mercadorias compradas pela Internet são
entregues pelos Correios, que é a única opção para a maioria dos municípios.
Além disso, a empresa estatal funciona como um braço logístico do Estado, sendo
imprescindível para uma série de políticas públicas no Brasil: entrega de
vacinas, distribuição de livros didáticos, realização de avaliações como o
ENEM, eleições, emissão de documentos, serviços bancários, entre muitos outros.
A pandemia veio escancarar a necessidade de
um correio público. Com o comércio fechado, os brasileiros de todos os lugares
só puderam adquirir muitos itens de maneira virtual, mas recebendo em suas
casas pelo serviço postal. A concorrência com as transportadoras só acontece
nos maiores centros urbanos, onde as empresas privadas têm interesse em atuar,
mas não esqueçamos que a maioria das cidades brasileiras possuem menos de 20
mil habitantes.
Os trabalhadores dos Correios estão em greve
há mais de uma semana. Dessa vez, não pedem por aumento de salário ou outras
reivindicações comuns ao movimento sindical, mas levantam três bandeiras: 1) o
imediato amparo às atividades na pandemia, pois os gabinetes dos generais que
ocupam o alto escalão da estatal parecem não estar preocupados com máscaras e
álcool gel para os carteiros e as agências; 2) a garantia de direitos de
acordos coletivos anteriores, agora subitamente ameaçados sob a desculpa de uma
crise econômica que na verdade favorece empresas de logística, como os
Correios; 3) contra o projeto de privatização do governo federal.
Não surpreende que Paulo Guedes e aliados
entreguistas andem por aí alardeando a necessidade de privatização dos
Correios, como quem troca bananas por ovos na esquina de casa. Como alguém que
não construiu um patrimônio de 357 anos tem algum requisito moral para vender o
que não é seu? É preciso dizer, sempre e mais uma vez, que os Correios não são
patrimônio de um governo, partido, facção ou clubinho de Chicago boys. Os
Correios pertencem, sim, ao povo brasileiro, a serviço de seu território. É
preciso dizer à Amazon que espere mais 300 anos.
É justamente pela relevância para a
integração do território e para a soberania nacional que o serviço postal está
incluído na Constituição Brasileira, que em seu artigo 21 esclarece quem
compete à União manter o serviço postal. Portanto não há dúvida a respeito dos
deveres do governo federal. O que há são promiscuidades de quem quer chamar de
emenda constitucional o desmonte de uma nação.
Nós temos o serviço postal como um direito, e precisamos lutar por sua manutenção mais uma vez ameaçada. A universalização do serviço de correio, com a presença em todo o território, é uma vantagem enorme do Brasil. Se privatizado, ainda não temos condições de mensurar os incalculáveis prejuízos a grande parte de municípios que ficarão sem o serviço, esses mesmos lugares desinteressantes para as empresas privadas, mas que constituem a maior parte desse território que chamamos de Brasil.
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