Jornal de Brasília
12/07/21
A discussão sobre a privatização dos Correios vem se acentuando a cada ano e agora tem o seu ápice com a apresentação do Projeto de Lei 591/21, que prevê a venda de 100% da estatal. O que me causa espécie neste processo não é a privatização em si, mas a forma como esta operação vem sendo conduzida, com atropelos constitucionais que vão aumentando a bola de neve do imbróglio jurídico e fazendo os Correios sangrarem ainda mais.
O governo quer vender 100% da empresa, o que abrange o serviço postal, que é um monopólio da União. Quando se trata de monopólio, o caminho é a alteração na Constituição por meio de uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) e não um projeto de lei. O procurador-geral da República, Augusto Aras, tem o mesmo entendimento, tanto que se manifestou de forma favorável a uma Ação Direta de Inconstitucionalidade no Supremo Tribunal Federal.
Quando assumi a presidência dos Correios, em junho de 2016, a empresa vinha de uma sequência de prejuízos bilionários. Em 2017, conseguimos alcançar lucro de R$ 667 milhões. Foi um marco a ser comemorado, afinal, mudar a rota de uma empresa desta grandeza é como manobrar um transatlântico. Dali em diante, os Correios tiveram apenas lucro em seus balanços e esta sequência vem sendo mantida.
Diante da capacidade que a empresa tem de superar desafios, defendo antes de qualquer iniciativa de venda, um modelo de parceria com o setor privado, a exemplo do que fiz quando fui presidente, em que a join venture com a Azul foi aprovada por todos os órgãos competentes, mas infelizmente este projeto fantástico não foi adiante.
Com estes impasses que vão sendo criados na privatização, a empresa só perde valor e relevância. Uma empresa pioneira nos serviços de comunicação no Brasil, presente em todos os municípios brasileiros, que conta com tecnologia poderia ser bem melhor administrada. Os Correios não merecem esse descaso.
GUILHERME CAMPOS,diretor do
Sebrae-SP, ex-presidente dos
Correios e ex-deputado federal por
São Paulo
Direção Nacional da ADCAP.
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