Cidadezinhas temem prejuízos com privatização dos Correios
O Tempo
06/10/19
06/10/19
Os Correios cresceram
6,06% em receita total no ano passado, em comparação com 2017. Na mira da
privatização, a empresa é uma das poucas presentes em todos os 5.570 municípios
brasileiros e, nos pequenos e de difícil acesso, é, muitas vezes, a única
possibilidade de a população de acesso a serviços postal e bancário. O temor
dessas cidades é que a venda comprometa o seu papel social.
Em São João das Missões, cidade
mais pobre de Minas Gerais, localizada na região Norte, não há bancos, e a
população depende do Banco Postal, marca dos Correios que permite, por exemplo,
sacar dinheiro e pagar contas.
“Se ficarmos sem ele, vamos ter
que fazer tudo (serviços de banco) nas cidades vizinhas Itacarambi, a 25 km, e
Manga, a 21 km. E a população não tem condição de ir para outras cidades”, diz
o secretário de Desenvolvimento Social do município, Joarez Rodrigues de Sousa,
ressaltando que metade dos cerca de 12 mil habitantes sobrevive com auxílios,
como o Bolsa Família.
Segundo Sousa, 90% das entregas
de encomendas na cidade são feitas pelos Correios. “Eu acredito que, se
privatizar, corremos o risco de perder a agência, e, se isso acontecer, será um
retrocesso muito grande. Temos poucos recursos, e, se perdermos os Correios,
vai ficar muito difícil”, completa ele.
Com menos de 4.000 habitantes,
Ewbank da Câmara, na Zona da Mata mineira, perdeu o Banco Postal no ano
passado. Agora, a população vai resolver as pendências na cidade vizinha Santos
Dumont. “A gente perde receita, porque, quando o povo vai para outra cidade,
gasta no comércio de lá”, afirma a secretária municipal de Administração, Maria
Regina de Oliveira.
No município menos populoso do
país, Serra da Saudade, no Centro-Oeste de Minas, onde vivem menos de 800
pessoas, os Correios são responsáveis pela entrega de correspondências e de
compras feitas online. “O que temos ouvido é que, com a privatização, os
Correios devem se organizar para o serviço de entregas com envios menos
frequentes e em dias predeterminados”, diz a prefeitura.
No mês passado, o secretário
especial de Desestatização do Ministério da Economia, Salim Mattar, disse a O
TEMPO que oito grandes grupos empresariais estariam interessados nos Correios e
que o ativo será “bem gerido na mão da iniciativa privada”.
O vice-presidente da Associação
dos Profissionais dos Correios (Adcap), Marcos César Alves Silva, discorda. Para
ele, os Correios têm uma boa estrutura no Brasil e um papel social importante:
“Em muitas cidades só tem prefeitura, igreja e Correios. Apenas em 324
municípios as unidades são lucrativas; nas demais, se gasta mais do que se
arrecada, mas esta é uma realidade que os Correios já conhecem. Nunca deixamos
de atender comunidades”, destaca Silva.
Segundo ele, a privatização
poderia comprometer o papel social, causando aumento de preço e fechamento de
agências. “Imagina se a empresa privada vai pegar barco para levar duas
caixinhas de encomenda para o interior do Amazonas”, diz.
Municípios pequenos podem sofrer
O coordenador do curso de
economia do Ibmec-BH, Márcio Salvato, destaca que a privatização torna a
qualidade do serviço melhor e reduz o custo, mas reconhece que cidades pequenas
podem ser prejudicadas com a venda dos Correios.
“Todo processo de privatização
pode levar à reestruturação. O ganho de eficiência que a empresa vai buscar
pode modificar a logística, como juntar postos de duas cidades muito próximas”,
diz Salvato.
Ao vender a estatal, o governo
pode estabelecer regras à empresa compradora como, por exemplo, a necessidade
de manter o Banco Postal.
Em nota, os Correios afirmam que
conectam pessoas, instituições e negócios por meio de soluções “acessíveis,
confiáveis e competitivas”. A empresa não comentou a possibilidade de
privatização.
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