O que Temer está esperando para privatizar os Correios?
Gazeta do Povo
12/03/2018
12/03/2018
Desde que assumiu a Presidência, Michel Temer
tomou medidas surpreendentes para alguém que foi vice de Dilma Rousseff.
Aprovou a PEC do Teto e cortou gastos, reformou as leis trabalhistas, controlou
a inflação e anunciou a privatização de portos, aeroportos e até mesmo da Casa
da Moeda.Mas por que a privatização ou a abertura de capital dos Correios não
entra nessa agenda de medidas urgentes do presidente?
Não é novidade que a Empresa Brasileira de
Correios e Telégrafos (ECT) é um cabide de empregos que presta serviços ruins e
caros aos brasileiros. Ninguém nutre paixão ou algum apego nacionalista por
essa estatal como ainda se tem pela Petrobras.
Em 2011, o jornal “O Globo” mostrou que a ECT
tinha um chefe para cada dois funcionários e 9 mil empregados em
licença-médica.
Os gastos com a folha de pagamento subiram de
R$ 118 milhões em 2011 para R$ 410 milhões em 2016, enquanto o número de
funcionários pouco se alterou, segundo um relatório da Controladoria-Geral da
União. Enquanto carteiros se viram com salários de mercado, chefes e
funcionários de cargos comissionados em Brasília aproveitam abonos e mordomias.
Típica estatal, a ECT é palco frequente de
corrupção, como revelou o Escândalo dos Correios de 2005, que acabou desaguando
no Mensalão.
Mesmo se a privatização rendesse apenas R$ 1,
seria um tremendo negócio para o Brasil. Nos livraríamos dos R$ 2 bilhões de
prejuízo que a empresa causa por ano.
Mas é claro que muita gente aceitaria pagar
um bom trocado pelos Correios. Na Inglaterra, a abertura de capital do Royal
Mail, primeiro serviço de correio do mundo, aconteceu em 2013. O governo inglês
faturou 2 bilhões de libras (hoje quase R$ 9 bilhões) com a venda de metade das
ações do Royal Mail. E ainda deu 10% das ações aos funcionários da empresa.
Ou seja: além de estancar uma fonte de
prejuízo, a venda da ECT ajudaria o governo a fechar o caixa de 2018. E, se os
funcionários se tornarem acionistas como aconteceu na Inglaterra, crescerá o
incentivo à eficiência da empresa.
Um argumento contrário à privatização é que
cidades pequenas, onde o serviço de remessas não dá lucro, ficariam
desatendidas. Bem, hoje o Brasil inteiro está desatendido por essa estatal – as
metrópoles e ainda mais as cidades pequenas. Além disso, sempre é possível
criar na privatização regras e condições para os serviços menos lucrativos.
Temer deveria aproveitar a atual greve dos funcionários
dos Correios e anunciar a abertura de capital da empresa e partilha de parte
das ações entre os funcionários. A greve acabaria num instante – e os
brasileiros dariam vivas ao presidente por ele acabar com essa fonte de
ineficiência e prejuízo.
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