quinta-feira, 19 de outubro de 2017

Amazon inicia venda de eletrônicos e usados


VALOR ECONÔMICO
18/10/17

A Amazon deu hoje o seu primeiro grande passo para expansão no país desde a entrada no mercado brasileiro, em 2012. Desde a meia-noite, a empresa americana passou a vender mercadorias como televisores, celulares e jogos, num total de sete categorias novas e cerca de 40 tipos de produtos, apurou o Valor. A venda é feita por lojistas hospedados no site da companhia, no modelo de "marketplace" ou shopping virtual - segmento com competição acirrada e com grandes grupos já estabelecidos no Brasil.

Segundo a Amazon, estarão disponíveis nessa nova fase mais de 110 mil itens. A concorrente B2W, dona dos sites Submarino e Americanas.com oferece 4 milhões de itens. Na Via Varejo, que opera os sites de Casas Bahia e Ponto Frio, são cerca de 2 milhões.

A informação do início da venda de eletrônicos pela Amazon foi antecipada pelo Valor PRO, serviço de informações em tempo real do Valor, há uma semana. As expectativas em torno desse movimento têm afetado duramente as ações de parte das varejistas na bolsa. Desde o dia 11, B2W perdeu 23% de seu valor, Magazine Luiza, 20%, e Via Varejo, 14,5%. O Valor apurou que corretoras que movimentam papéis de pessoas físicas fizeram as maiores vendas, o que pode indicar uma reação mais "emocional" desses investidores.

A indústria também venderá diretamente no site da Amazon - há contratos fechados com Samsung, Sony e Motorola. Serão apresentados ainda produtos usados, que poderão ser oferecidos por lojas ou por pessoas físicas. Com isso, a companhia entra no segmento de C2C (venda de pessoa física para pessoa física) já disputado pelo Mercado Livre desde 1999 e que começa a ser explorado pela B2W.

"Começar com livros nos fez aprender algumas coisas. No Brasil, nos parece baixa a barra de como se trata o consumidor. É isso que estamos olhando nos eletrônicos", disse em entrevista ontem, na sede da empresa, Alexandre Szapiro, diretor-geral da Amazon Brasil. A empresa entra nas novas categorias pouco antes da "Black Friday", que ocorre no fim de novembro e já é uma das datas promocionais mais importantes para o varejo.

Segundo o executivo "centenas" de lojistas estão cadastrados - ele prefere não abrir o número - e diz apenas que a tendência é que isso aumente gradativamente. O "marketplace" da B2W tem cerca de 7 mil lojistas e o do Magazine Luiza, pouco mais de 500, apurou o Valor.

No "marketplace" é estratégico para a operação um sistema de logística e distribuição que atraia os lojistas para o site, por causa da competição no setor. Redes médias e pequenas têm áreas de armazenamento limitadas e, no mundo, usam a estrutura dos portais para estocar suas mercadorias - e pagam por isso. Mas a princípio, no Brasil a Amazon não oferecerá esses serviços, que levam a empresa a ter melhor controle do
nível de serviço dos vendedores.

No Brasil, a B2W opera o sistema B2W Entrega e o Magazine Luiza deve começar a armazenar em seus CDs mercadorias de lojistas no ano que vem, apurou o Valor. Questionado sobre a hipótese de ofertar serviços na área logística, a Amazon não abre detalhes. "Certamente hoje é só o nosso primeiro dia e a ideia é trazer inovação ao cliente", se limita a dizer Szapiro.

m caso de problemas com a compra, o consumidor poderá acionar com a Amazon - e ao entrar em diversas categorias de alto giro, especialistas entendem que isso aumenta a exposição da marca no mercado. "A maneira que tratamos isso é sendo rigorosos com nossos controles e exigências, acompanhando 'rating' dos sellers . Entramos em contato com o vendedor para resolver os casos e se não for resolvido a gente reembolsa o cliente", disse.

Para tentar atrair os vendedores brasileiros, Szapiro menciona algumas ferramentas. Fala em "preço dinâmico" (quando o varejista põe uma 'trava' em seu preço até determinado patamar) e diz que o vendedor poderá escolher dezenas de configurações de entrega ao cliente. Inevitavelmente, dizem analistas, os vendedores do site terão que usar, em sua maioria, os Correios, sistema em uso por todos os "marketplaces" no país e com dificuldades operacionais.

A Amazon vai cobrar dos lojistas uma taxa de comissão de 10%, menor que os 12% da B2W (que oferece pacote de serviços aos varejistas), mas abaixo ainda do Mercado Livre, que chega a oferecer no Brasil 6%, diz uma fonte. A Amazon não deve cobrar pela antecipação de recebíveis de varejistas no país, taxa que na prática tem caído. A comissão de 10% é promocional, mas Szapiro não revelou o período de duração. No lançamento do "marketplace" de livros, condição semelhante foi oferecida por um ano (até abril de 2018).

Ontem, analistas estiveram em contato com varejistas brasileiras e as redes têm ressaltado aos investidores que há uma "reação exagerada" ao efeito Amazon no mercado. Disseram que a entrada da empresa é lenta. E pesa o fato de a Amazon não ter operação de loja física no país. Não é um "marketplace" integrado aos pontos físicos, como ocorre com marcas como Americanas.com e Casas Bahia.

Para o analista do UBS, Gustavo Oliveira, é difícil imaginar que a companhia fará uma expansão acelerada no Brasil pelo menos nos próximos três anos. Ele vê oportunidades para os varejistas já estabelecidos e cita o exemplo da Best Buy, nos EUA e da Fnac, na França. "Inicialmente, as vendas foram muito afetadas, elas tiveram que reagir, entregaram um pouco de margem, mas depois conseguiram se diferenciar."

No país desde 2012, a Amazon começou suas operações vendendo livros eletrônicos. No ano seguinte, trouxe para o país o leitor digital Kindle. Em 2014, avançou para as edições impressas. Até maio, as vendas eram feitas diretamente pela companhia. Naquele mês, estreou no país seu modelo de venda por "marketplace".

Analistas estimam as vendas da Amazon em 2016 entre R$ 200 milhões a R$ 500 milhões. Sobre os cálculos, o diretor diz que "os relatórios são peça de ficção".

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