Saco sem fundo
FOLHA DE S. PAULO
5/10/17
FOLHA DE S. PAULO
5/10/17
A
intervenção decretada no Postalis, fundo de pensão dos funcionários dos Correios,
é triste evidência de que prosseguem os descalabros na gestão das entidades de
previdência complementar patrocinadas por empresas estatais.
Regras internas que deveriam zelar pela prudência nas decisões de investimento
falharam ou foram ignoradas. Os órgãos de controle, por sua vez, agem quando o
desastre está consumado.
Em abril, o Tribunal de Contas da União já determinara a indisponibilidade de
bens de ex-gestores do Postalis, por negligência e conduta em desacordo com o
regulamento do fundo, que teriam causado prejuízo de R$ 1 bilhão.
Depois, em agosto, o conselho deliberativo da instituição rejeitou as contas do
plano de benefício definido (que garante um valor fixo de aposentadoria) em
2016.
Ao longo de quase uma década, a entidade fez investimentos, na hipótese mais
benigna, temerários — casos de papéis da Venezuela e da Argentina, além de maus
negócios também em moeda brasileira. Ainda que seja o mais notório, o caso do
Postalis não é isolado. O Ministério Público Federal estima que as perdas
resultantes de operações fraudulentas ou politicamente dirigidas em fundos
ligados a estatais — incluindo Funcef (CEF), Petros (Petrobras) e Previ (Banco
do Brasil), entre outros— cheguem a R$ 8 bilhões.
No fundo dos funcionários da Petrobras, o montante adicional a ser coletado
para cobrir o deficit chega a astronômicos R$ 27,7 bilhões, dividido igualmente
entre a empresa e os participantes (ativos e aposentados) ao longo de anos.
Nem sempre os problemas decorrem apenas de más decisões ou corrupção. Fatores
como expectativa de vida dos participantes e a conjuntura econômica influem nos
resultados. Qualquer que seja a razão, todas as entidades, em maior ou menor
grau, estão em meio a processos de saneamento.
Deixar o padrão de ingerência política e rombos não depende apenas de regras
duras, que em grande medida já existem no papel. A gestão só será realmente
profissional quando os próprios servidores das empresas assumirem um papel mais
ativo no controle do que, afinal, é seu próprio dinheiro.
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