Uma alternativa à privatização dos Correios
Carta Capital
22/09/2017
Os Correios, empresa pública de 350
anos que conecta o Brasil, estão na mira do projeto de privatizações do governo
Temer.
Antes de vendê-la, porém, apostam no seu
sucateamento. Aliás, já vimos este filme em administrações tucanas, como no
caso da Vale, para citar apenas um exemplo.
Defensor do Estado mínimo e pró-capital financeiro
internacional, Temer e seus aliados do PMDB, PSDB, DEM, PP e PSD, entre outros,
atacam, de um lado, conquistas históricas das trabalhadoras e trabalhadores
celetistas, além de proibição de férias, cortes no plano de saúde e Plano de
Demissão Voluntária; e de outro lado deixam de investir em infraestrutura,
precarizando e reduzindo serviços para a população que mais precisa, como o
fechamento de agências, inclusive do Banco Postal — até mesmo em municípios
onde é a única opção bancária.Só esta semana anunciaram o encerramento de 1.836
agências que ofereciam Banco Postal nos estados de AL, BA, CE, GO, MT, PE, PI,
PR, RN, RR, RS e SP.
Alguém pode defender que as ações sejam para
colocar a empresa no azul. Engano. A atual gestão dos Correios conseguiu derrubar
a receita nominal em 2017, no acumulado até julho, em quase R$ 600 milhões,
mesmo com aumento de tarifas.
Quanto mais cortam as despesas
indiscriminadamente, mais cai o faturamento, devido à queda da qualidade do
serviço e a fuga da clientela no segmento de encomendas. A estatal entra em um
círculo vicioso perverso: corta para gerar superávit, mas o déficit aumenta
pela perda da receita. Com isso, fortalece o discurso dos privatistas de
plantão.
Ainda que o envio de correspondências e
boletos sofra ligeira queda, fruto da evolução do mundo virtual, receitas
oriundas da exclusividade postal representam 61% do total da empresa.Um valor
muito alto para ser desprezado. Destaca-se ainda pesquisa da TIC Domicílios
(2016), mostrando que o uso da Internet por indivíduos de 10 anos ou mais
alcançou 61%. Ou seja, 39% dos brasileiros ainda não acessam a Internet no
Brasil, revelando a importância dos serviços da estatal.
Sobre o faturamento da empresa, outros 32%
vêm da área de encomendas, onde gigantes mundiais concorrem com os Correios,
especialmente no mercado mais atrativo (RJ e SP).
Curiosamente, nestes estados os ganhos das
agências franqueadas tem apresentado crescimento. Ou seja, crise econômica só
para a empresa, que até junho apresentou queda de 4,82% do faturamento nominal
oriundo de receitas operacionais. Já os franqueados, no mesmo período,
aumentaram seu faturamento em quase R$ 100 milhões, acréscimo de 7,78% em
relação a 2016.
Estranho, não? Será que a gestão Temer
estaria passando grandes clientes para franqueados em detrimento da empresa?
A história e os serviços que prestam ao País
justificam a manutenção dos Correios como empresa 100% pública. Precisa
melhorar? Sim.
Mas para isto é necessário investimento e
melhores condições de trabalho. Neste sentido, apresentei o projeto de lei
7638/2017, que visa à sustentabilidade financeira dos Correios, fazendo com que
a Administração Pública Federal contrate preferencialmente os serviços da
empresa, como logística, digitalização, guarda de arquivos etc.
A exemplo do MEC, que contrata a expertise da
estatal para distribuir as provas do Enem. Conclamamos nossos pares para
debater e aperfeiçoar o projeto que, se aprovado, estima-se uma receita de pelo
menos R$ 20 bilhões para os Correios, dobrando o atual faturamento.
A privatização dos Correios seria um golpe na
soberania nacional. Os serviços prestados são imprescindíveis para a população
e para o desenvolvimento do Brasil. Existem meios para tornar a estatal
superavitária, falta vontade política.
*Maria do Rosário é deputada federal (PT-RS)
e integrante da Frente Parlamentar em Defesa dos Correios
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