Correios enfrentam falta de caixas e envelopes em agências, e comerciantes lucram com situação
Globo.com
20/08/2018
20/08/2018
Quem precisa despachar encomenda nos Correios deve
ficar atento. Em algumas agências estão faltando caixas e envelopes. Os
Correios confirmam o desabastecimento em algumas unidades, e informam que a
regularização só deverá ocorrer nos próximos meses (veja nota na íntegra
abaixo).
Com a falta de produtos, donos de lojas
próximas às agências estão aproveitando para vender embalagens para os
clientes. E por preços abaixo dos cobrados pela estatal.
O G1 visitou, na segunda-feira (13), quatro
agências em São Paulo – três próprias e uma franqueada - e ouviu dos atendentes
que caixas de encomenda e envelopes grandes (de papel e de plástico) estão em
falta há pelo menos 4 meses. Em todas, funcionários sugeriram que as embalagens
fossem compradas em estabelecimentos próximos.
A reportagem esteve nesses estabelecimentos e
comprovou com os proprietários que a venda de caixas e até de papel kraft havia
aumentado desde abril. E em dois deles os proprietários passaram a vender as
caixas por causa do desabastecimento nas agências.
Quem precisa despachar correspondências ou
encomendas pode optar por levar a embalagem pronta, desde que siga o padrão
estipulado pelos Correios de acordo com o objeto, ou optar por comprar na
agência o envelope ou a caixa onde será acondicionada a encomenda.
Os Correios ressaltam que, para aceitar a
postagem, a embalagem deve ser adequada para chegar ao destino sem ser
danificada. Por isso, pode ocorrer de a embalagem não ser aceita e o cliente
ter de adquirir a recomendada pelos Correios.
No site dos Correios, a lista de embalagens
traz o total de 19 caixas de encomenda de vários tamanhos dentro das linhas
Básica, Convencional e Temática, e 20 envelopes de papel, cartão e plástico,
dentro das mesmas linhas das caixas, e os respectivos preços A microempresária
Mirella Gaz, de 20 anos, teve de comprar embalagem em uma papelaria após
esperar mais de meia hora para ser atendida em uma agência da Rua Tabapuã, na
Zona Sul de São Paulo, no mês de maio. Ela chegou para despachar um par de
sapatos para uma cliente e ouviu da atendente que não havia caixa para colocar
o produto. A funcionária deu a sugestão de ela comprar a embalagem na loja em
frente da agência. “Comprei a caixa, embalei, tive que pegar nova senha e
esperar para ser atendida de novo”, conta.
Na segunda-feira, Mirella teve de despachar
outro par de sapatos. Como sabia que não havia embalagem na mesma agência,
colocou o produto em uma caixa que encontrou em casa. Mas não foi aceita porque
os Correios só permitem que sejam enviadas caixas sem logomarcas. Teve de ir à
mesma papelaria da outra vez para passar um papel kraft em volta. Pagou R$ 2
pelo papel e R$ 3 pelo embrulho do funcionário.Na agência da Rua Tabapuã, uma
atendente confirmou que não havia embalagem nem envelope disponível e deu a
dica da papelaria em frente.
O proprietário do estabelecimento diz que a
falta de caixas começou em março na agência e de lá para cá aumentou a venda
dessas embalagens na sua loja. “A gente sempre vendeu porque nosso preço é a
metade do cobrado pelos Correios, mas com a falta na agência nosso faturamento
aumentou bastante”, diz Domingos Costa.Outro empresário que está se dando bem
com a crise dos Correios é Fernando Kobayashi. Sua loja, que trabalha com
chaveiro, carimbos e recarga de cartuchos, começou a vender caixas em maio. “Os
próprios clientes sugeriram”, conta.
No começo, ele vendida caixas comuns e
embalava as encomendas para os clientes com as fitas adesivas. Como a demanda
foi aumentando, ele passou a vender caixas com o padrão Correios, com tamanhos
similares e com os mesmos dados impressos como destinatário, endereço, cidade e
espaço para etiqueta e carimbo.A loja de Kobayashi fica praticamente ao lado da
agência dos Correios na Rua Matias Aires, na região central de São Paulo. Ali,
segundo a funcionária, só está disponível para venda a caixa menor, que custa
R$ 4,60. Na loja ao lado, a mesma caixa custa R$ 4. As demais caixas vendidas
pelo comerciante também são mais baratas. Enquanto nos Correios os preços
variam de R$ 4,60 a R$ 14,80, na loja de Kobayashi vão de R$ 4 a R$ 7.
Ele também vende por R$ 1 o envelope grande,
que está em falta na agência e custa R$ 3,20 – o único disponível é o pequeno,
de R$ 2,50.
Durante a entrevista com o comerciante, o G1
viu dois consumidores indo à loja de Kobayashi comprar um envelope e uma caixa
para despachar suas encomendas.
Cláudio Rezende e Eliane Cavalcanti levaram a
mercadoria que iam despachar na agência da Rua Matias Aires já embalada porque
sabiam que a agência estava sem caixa. Em junho, Eliane conta que esteve numa
agência da Rua Haddock Lobo, na mesma região, e não havia disponível nenhuma
caixa. “Fui até a loja do meu filho e ele deu uma improvisada”, lembra.Na
agência da Rua dos Pinheiros, no Largo da Batata, Zona Oeste de São Paulo, a
atendente informou que só havia a caixa menor, de R$ 4,60, e o envelope pequeno
de R$ 2,50.
Segundo ela, até mesmo a fita adesiva a
agência estava economizando. Os funcionários encaminham os clientes para uma
loja de embalagens que fica a cerca de cinco quadras da agência. O proprietário
Henrique conta que muitos clientes chegam com caixas improvisadas de
supermercados e compram o papel kraft para embalá-las. Mas ele tem vendido
caixas para quem precisa despachar as mercadorias. Os preços variam de R$ 4,30
a R$ 7,30.
Agência na Zona Norte
Na agência dos Correios da Vila Guilherme, na Zona Norte, que é franqueada, a situação estava um pouco melhor. Havia disponível o envelope pequeno de R$ 2,50, e as caixas de R$ 4,60, R$ 7,50 e R$ 19,90. O G1 flagrou um cliente que queria despachar uma encomenda num envelope grande e acabou aceitando a sugestão da atendente de colocar numa caixa pequena.Celso Augusto Jabur, dono de uma papelaria na Vila Guilherme, Zona Norte de São Paulo, pegou carona na falta de produtos dos Correios e passou a vender caixas para os clientes da agência, que fica a quatro quadras de sua loja.Ele cobra R$ 4 pela caixa média já embalada, que nos Correios sairia por R$ 7,50. O envelope grande sai por R$ 0,50. Houve aumento ainda na venda de fitas adesivas e de papel kraft. “Muita gente acaba tendo que embalar as caixas e anexar a nota fiscal das mercadorias do lado de fora”, explica.
Na agência dos Correios da Vila Guilherme, na Zona Norte, que é franqueada, a situação estava um pouco melhor. Havia disponível o envelope pequeno de R$ 2,50, e as caixas de R$ 4,60, R$ 7,50 e R$ 19,90. O G1 flagrou um cliente que queria despachar uma encomenda num envelope grande e acabou aceitando a sugestão da atendente de colocar numa caixa pequena.Celso Augusto Jabur, dono de uma papelaria na Vila Guilherme, Zona Norte de São Paulo, pegou carona na falta de produtos dos Correios e passou a vender caixas para os clientes da agência, que fica a quatro quadras de sua loja.Ele cobra R$ 4 pela caixa média já embalada, que nos Correios sairia por R$ 7,50. O envelope grande sai por R$ 0,50. Houve aumento ainda na venda de fitas adesivas e de papel kraft. “Muita gente acaba tendo que embalar as caixas e anexar a nota fiscal das mercadorias do lado de fora”, explica.
O administrador da agência franqueada, Luiz
Alberto Marinho, nega que esteja havendo desabastecimento de embalagens na
agência. “As faltas são sazonais, elas sempre ocorreram. Às vezes falta uma
coisa ou outra, mas isso está dentro do previsto”, diz.
Segundo ele, a agência tem controle do
estoque, e quando verifica que precisa dos produtos pede para os Correios. “Às
vezes demora dois meses para vir, mas isso é normal”, afirma. “Tudo o que eu peço
eu sou atendido, ou antes ou depois, ou numa quantidade maior, ou menor”.
A diferença das franqueadas em relação às
próprias é que elas trabalham com metas e resultados, segundo Marinho. “O
segredo é como gerenciar tudo, se não tem o envelope eu ofereço a caixa, e
vice-versa”, afirma.
Segundo Marinho, não há diferenciação no
abastecimento entre as agências franqueadas e as próprias. Os preços dos
produtos também são os mesmos. O que muda é o gerenciamento, feito por um
administrador, que contrata os seus funcionários. Já nas lojas próprias, todos
são concursados.
Mesmo que não haja produtos para os clientes,
o faturamento não é abalado, segundo ele, porque o forte das vendas vem das
encomendas despachadas. “O cliente vai ter que postar do mesmo jeito. As atendentes
tentam ajudar até onde elas podem [em relação às embalagens]”, diz.
Veja a nota dos Correios na íntegra:
“Em função da atualização em nossos sistemas
internos, o processo de abastecimento de alguns itens pode ter sido prejudicado
em algumas de nossas agências. Os Correios têm priorizado a compra de insumos
para as unidades de atendimento e a reposição do material para comercialização
já está ocorrendo. O estoque deve ser regularizado nos próximos meses em todo o
país.”
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